O Bombeiro

O Bombeiro

Oscar Bessi

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Quando o tenente Glaiton Contreira assumiu o comando do Corpo de Bombeiros de Montenegro, encontrou um quartel com dificuldades. Equipamentos velhos, trâmites complexos com fornecedores empacados, parcos recursos. Uma realidade nada incomum. São tantos quarteis, tantas delegacias, tantos postos de atendimentos e tantos presídios que o ente público tem dificuldades em entregar tudo pronto, como deveria ser, para que seus agentes cheguem e apenas desenvolvam seu trabalho junto à população. Acontece que Contreira não era apenas um oficial bombeiro conhecedor do seu ofício, das técnicas de combate ao fogo, de resgate ou socorros diversos. Era um gestor. De pessoas. De recursos. Um defensor do diálogo irrestrito e da aproximação. Um estrategista do bem.
 
Foi assim que, em menos de um ano e meio de comando, ele simplesmente repaginou todo a sua unidade. Conseguiu investimentos, através de fundo específico, de quase meio milhão de reais. E motivou sua equipe de trabalho. Conquistas feitas através do diálogo e do sorriso franco, da defesa da verdade, da paixão pura pelo seu ofício. Os bombeiros têm disso. O cacoete de se entregar sem pudor à proteção do outro, do coletivo a que servem, de correr qualquer risco em defesa da vida. Sem qualquer preconceito ou distinção. O único partido do tenente Contreira era o Corpo de Bombeiros. Um grande comandante. Os Bombeiros sempre foram grandes parceiros do policiamento. Sabíamos de suas dificuldades e como encaravam todas as missões e desafios mesmo assim, sem titubear. Vibramos com a volta por cima. Vibramos com Contreira. “Que ele fique um bom tempo aqui”, me disse um amigo.
 
Só que a vida tem dessas. Armadilhas inusitadas que, se estavam previstas no destino, a gente devia ter o direito de saber, para evitar. Porque não é justo. Contreira foi assassinado, de forma cruel, no seu próprio convívio familiar. Pelo enteado, segundo a confissão do, até o momento sabido, autor. Por besteira. Por patrimônio. Ele, que se preparava para fazer sua atividade física, no cuidado consigo que era um dos tantos componentes que o tornava exemplo para tantos, além da postura humanitária, para estar em condições de ir ao front com seu time sempre que fosse preciso. Ele gostava de saber fazer, para ensinar. Ele gostava de motivar. Ele iria começar um curso sobre prevenção ao suicídio para ajudar, ainda mais, a defender vidas. 

Aí, do nada, por um motivo fútil, ele é asfixiado. Degolado. E acabou. O homem brilhante, quanto tanto fez por tantos, nos deixou sem a chance de um adeus à altura. Não é justo. Nem haverá justiça que o traga de volta. Sentiremos sua falta, amigo Contreira. Sentiremos saudades. Que bombeiros têm disso, também. Eles nos cativam e se tornam imprescindíveis entre nós. 


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