Os heróis de Lajeado

Os heróis de Lajeado

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Era pouco mais de 06h da manhã e ainda não amanhecera. O frio castigava a população de Lajeado, que começava a viver a maior enchente dos seus últimos 64 anos. A Brigada Militar então recebeu diversas ligações de moradores apavorados com os gritos de socorro de uma mulher, vindos de onde o Arroio Saraquá corta uma rua da cidade. Policiais militares correram para o local. Um carro sucumbira à violência da enchente a cerca de 50 metros da margem. A água subia implacável. A correnteza forte arrastava tudo o que via pela frente com fúria. Sem pestanejar, o Sargento Michel Chereta Garcia e o Soldado Bruno Dias Neves, ambos da Força Tática do 22º BPM, retiraram equipamentos e coturnos e se jogaram imediatamente, nadando na direção dos gritos. Não viam nada na escuridão, mas graças às lanternas dos colegas e faróis das viaturas que ficaram na margem, localizaram Dona Tatiana. Mãe de dois filhos. Ela estava sobre o teto do seu carro já totalmente submerso. Em estado de choque. Respirando com dificuldade, sem conseguia falar e nem abrir as mãos. Perdias as forças e sentia a água lhe levando. A situação era desesperadora.

A água gélida e barrenta, o lixo trazido pela correnteza forte, o nível da cheia subindo freneticamente, o escuro, o frio. Tinha tudo para dar errado. Naquele mesmo local, 22 anos antes, o então Soldado Elton, da Brigada Militar, tentou resgatar um homem que também estava sobre o seu carro coberto pela inundação. Ambos morreram. E a enchente daquele distante 1998 era no mínimo quatro metros menor que a atual. Mesmo assim, Michel e Bruno mantiveram aquela mulher viva, com eles, talvez quando ela, no pavor do instante, nem acreditasse mais que poderia sobreviver. Com apoio dos colegas de farda, de bombeiros e do SAMU, o resgate se realizou. Tatiana nasceu de novo. Graças ao heroísmo de dois policiais militares que, segundo eles próprios, apenas honraram seu juramento. De colocar em risco a própria vida para salvar outra. É, os verdadeiros heróis são assim. Tão humildes quanto destemidos.

Conheci Michel ano passado, na coordenação do curso de formação de soldados, em Montenegro, e nos tornamos amigos. Então eu já sabia do seu caráter, dedicação, profissionalismo e valor. Mesmo assim me emocionei ao ler o relato do Tenente Herton Corrêa, Comandante da Força Tática onde Michel e Bruno servem. Coloque-se, caro leitor, no lugar de quem enfrenta sem pestanejar um perigo desta envergadura. De quem encara as forças imbatíveis na natureza, a água em fúria, o breu e o frio, e encara, e vence. De quem esquece de si mesmo e se joga de corpo e alma contra o improvável e o impossível pelo compromisso de salvar uma vida. Lajeado tem seus heróis. E eles não usam roupas especiais, nem tem superpoderes. Eles vestem a farda da Brigada Militar. E são homens comuns, mas de almas especiais.


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