A noite em que o Brasil foi Xavante

A noite em que o Brasil foi Xavante

A vitória de virada sobre o São José foi uma dessas noites épica que inflamam a Nação Rubro-negra

Oscar Bessi Filho

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Não pense que é simples torcer para um time do interior do RS. Não pense que é fácil fazer parte da Maior e Mais Fiel. Ser Xavante é ter o coração reforçado, blindado, marcado de tantas guerras, sobressaltos, medos e, acima de tudo, gigantescas alegrias. Esta terça (26), no Estádio Passo D'Areia, foi uma dessas noites épicas que só o ser xavante proporciona. Com um segundo tempo primoroso, o Grêmio Esportivo Brasil foi Xavante, do goleiro ao banco, às arquibancadas, aos ouvidos colados no rádio ou olhares nervosos grudados na TV paga. E por um detalhe não se encerrou a noite com aquela goleada realmente redentora, capaz de abrir os mais loucos sonhos e esperanças que, até alguns dias, pareciam impossíveis, abafados sob pesadelos de rebaixamentos. Sim, no plural, porque do jeito que a coisa ia, ficar na série A do Gauchão era utopia - e, mais adiante, deixar a B do brasileirão seria mera consequência da catástrofe.

Mas não podia acontecer. Não em um ano tão especial. Ano onde se comemora um século do título conquistado no primeiro Gauchão da história (1919). Nos 10 anos da triste noite de horrores que nos levou Millar, Régis e Giovani, em 2009, e que se tornou marco de uma reverência à paixão pelo rubro-negro. Esses aniversários tão significativos não mereciam fiascos para marcá-los na lembrança do torcedor sempre apaixonado.

Há algo a mais no time comandado por Gustavo Papa. Há raça, paixão e jogadas. Mesmo em pouco tempo sob seu comando, já invicto em jogos tão decisivos e com um novo ânimo, palpável só de olhar. Dos dias de terror, passou para a classificação fora de casa, pela primeira vez na história, para a segunda fase da Copa do Brasil. Parou o poderoso Grêmio, que atropelava todos os times com goleadas com qualquer formação que entrasse em campo, e com chance de vencer o jogo. E virou, na noite de ontem, um resultado adverso e toda uma situação na tabela do campeonato. Claro, as derrotas de início foram tantas que ainda há muito mais a fazer, para não cair. O começo foi terrível e as feridas ainda ardem, abertas. Mas, ainda que aconteça o pior - agora menos possível do que antes -, o ânimo é outro. Do time à torcida. E o Grêmio Esportivo Brasil é isto. Time e torcida. Não se pode separar.

Última vez que fui à Baixada foi no final do ano passado. Viajei 5h de ônibus e vencemos o Vila Nova, candidato à serie A do brasileirão, por 5x0. O brasil de queda quase certa encerrava o campeonato com um rendimento que, se mantido desde o início, era séria A certa, vencendo todos os grandes candidatos ao acesso, como Goiás, Vila e Ponte Preta, dentro ou fora de casa. Pretendo ir outra vez para ver o jogo com o São Luiz. Vamos ver se sou pé quente mesmo, como disseram os amigos Leandro e Daniel. Porque no Bento Freitas, para o próximo jogo, não haverá espaço para mais nada além da nosa raça. O estádio estará lotado.

Ano passado, quando Papa assumiu o time e venceu o Criciúma, num jogo cheio de raça e com o Brasil passando mal na tabela, pensei com meus botões se não seria uma boa ele continuar no comando. Gustavo traz confiança até nas suas entrevistas. É marujo de sal na barba, conhece todos os recantos do navio, os cacoetes dos marinheiros e as tantas tempestades do mar. Gilmar assumiu no jogo seguinte e foi um desastre. Nem por culpa dele, mas a Baixada é lugar pra Xavante. E ser Xavante está no DNA.

Rogério tinha DNA Xavante. Como o saudoso Millar. E Gustavo Papa também tem, podem apostar.

"Vitória redentora", festeja o site do clube. Exatamente. Dá pra começar a sonhar outra vez, parceiro. Até mesmo com uma surpresa lá na Ressacada pela Copa do Brasil. Até mesmo com um belo encerramento de Gauchão 2019. Ser Xavante é acreditar. É ser épico ao natural. Avante, com todo esquadrão.

  


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