O medo das crianças
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Hoje, segundo a Unicef, as crianças do mundo temem a violência, o terrorismo e a pobreza. Eles não querem morrer numa guerra, nem passar fome. Ninguém quer. É o que o mundo adulto lhes apresenta como assustador. Dá medo. E esse medo que aflige as crianças não é um mal exclusivamente brasileiro. Nosso problema, aqui, é a elevação absurda de índices que passam a ser tratados como normais, a ser perigosamente aceitos, enquanto configuram um absurdo. O Brasil lidera o ranking de muitos crimes contra crianças e adolescentes. E é onde há mais crianças com medo de serem vítimas de agressão, crimes ou abusos de toda ordem. Medo que nasce da realidade vivida por eles. Experimentada por eles. Quando a investigação policial revelar o que houve com a menina raptada em Porto Alegre, por exemplo, saberemos como, por que ela morreu e quem cometeu essa barbárie. Mas nenhuma revelação mudará a monstruosidade do ocorrido. Foi monstruoso, sim, seja o que for. E nos traz medo.
Na escola da Lomba do Pinheiro, onde uma professora foi agredida, mais uma vez, num ato criminoso e selvagem no seu próprio local de trabalho, o medo vai além. Ele passa a conviver com o cotidiano de um coletivo de crianças, de pais, de professores que precisariam estar tranquilos para construir essa magia humana chamada educação. Mas não estão, não estarão, seus alunos saberão disso e sentirão todos os dias. E o que era para ser construtivo de repente se esfacela, tenso, deteriorado, arrancado de suas raízes. Professores precisariam ser bem protegidos. Escolas precisariam. Nossos filhos estão lá. Mas estão com medo. E o medo é uma muralha que impede a descoberta de mundos melhores, que inibe a evolução. Que distorce sentimentos e faz palco para intolerâncias e outros graves equívocos. Há que se pensar nisso, nessa nebulosa de medo que nos impede de ver futuro.