Vazar fotos de mortos: condenação é exemplo

Vazar fotos de mortos: condenação é exemplo

Oscar Bessi

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Em abril deste ano, a opinião pública ficou chocada (pelo menos das pessoas que ainda têm algum pudor, ética e humanidade em si) com a divulgação de fotos, na internet, da autópsia da cantora Marília Mendonça. Eram anúncios de vendas destas fotos. E houve clientela para essa bizarrice, pasmem! A família da cantora ficou horrorizada, não ficou quieta frente ao absurdo e não só se pronunciou repudiando o ocorrido como acionou seus advogados para que não ficasse por isto mesmo. A reação deu resultado. E o homem que vazou as fotos não só de Marília, como também de Gabriel Diniz, além de identificado foi preso, o seu celular foi periciado e se constatou que ele criava perfis falsos em rede social para postar esses absurdos. Entre outras idiotices, como manifestações racistas, violentas e até nazistas. Ele foi condenado a nada menos do que oito anos de reclusão e mais dois anos e três meses de detenção. Uma excelente ação da justiça brasileira. Que esta condenação sirva de exemplo aos que ainda acham que internet é terra sem lei para propagação de ódio, mentiras e ofensas baratas, além de conteúdo sem qualquer respeito ou humanidade. Não é e não pode ser assim. Mas há que ser mais controle, é verdade. Porque o mérito inicial é todo da família da cantora que não ficou calada frente ao desaforo. Tem muito mais conteúdo semelhante por aí.

Há alguns anos, eu estava na primeira guarnição policial que chegou ao local de um crime revoltante. Um homem, sabe-se lá por qual motivo, esfaqueou covardemente a esposa e duas meninas, uma adolescente e uma criança. Uma cena repleta de sangue e nada fácil de encarar. O local foi isolado e somente autorizamos as equipes que precisavam ingressar no local, como os colegas da Polícia Civil, os peritos criminais, etc. Antes de nós, apenas uma idosa, que não tinha celular e descobriu a cena, tinha entrado ali. Pediu socorro e uma vizinha, que nem quis chegar perto, nos ligou. Mas, para minha surpresa, meia hora depois de iniciarmos os procedimentos da ocorrência, uma página de notícias – que não era imprensa de verdade, mas um desses urubus locais – noticiou o crime e publicou fotos. Fotos que só alguém que esteve no local poderia ter tirado. Nem é preciso dizer o quanto fiquei fulo com aquilo. Mas que falta de respeito, mandar aquela foto da tragédia sem qualquer filtro para um divulgador sem qualquer escrúpulo ou ética! Que falta de profissionalismo de quem fez isto! Que falta de humanidade.

Se essas fotos dos cantores, divulgadas por esse criminoso virtual, eram reais, então há que se dar a mesma punição exemplar para quem as tirou. Não é admissível que justo alguém que tenha feito um juramento ético, de um serviço público, se preste a fornecer esse tipo de material para pseudojornalistas. A justiça brasileira precisa ter mão pesada com quem posta absurdos, mas também com quem fornece esse tipo de material. Policial de verdade não quer fama em rede social ou exibicionismo. Policial de verdade se preocupa com o crime, com as vítimas, com as pessoas envolvidas, e não com o quanto uma foto bizarra vai render curtidas ou viralizar nas redes. Nesses tempos de egocentrismo midiático nas redes, respeito é palavra que só pertence aos que são sérios nas suas profissões. E ou se pune a falta de respeito com rigor, como neste caso, ou ninguém mais estará livre de virar mais um episódio bizarro em páginas de busca. 


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