Londres e os policiais que entregaram suas armas

Londres e os policiais que entregaram suas armas

Em protesto um tanto estranho, para muitos, policiais londrinos devolveram seus portes de armas nos últimos dias. Eles não querem correr o risco de serem processados, como foi o colega que matou um homem, numa abordagem, ano passado.

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Um manifesto um tanto inusitado. Mesmo que estejamos falando da capital da Inglaterra, onde, de um efetivo total de polciais que gira em torno de 34 mil agentes, a grande maioria trabalhe desarmada. Menos de 10% deles (em torno de 2,5 mil) possui armamento letal.

O protesto é pequeno, envolve algo em torno de uma centena desses dois mil e meio profissionais de segurança pública que têm direito a armas. Mas ganhou as manchetes mundo afora. O caso é que os policiais não querem ter essas armas e correrem o risco de serem processados pelo seu uso, como aconteceu com o colega envolvido em uma ocorrência de disparo no sul da cidade, em 2022. Acontece que, naquele caso, houve uma morte. E a vítima da abordagem estava desarmada. Vários questionamentos foram feitos, manifestações e o caso é investigado num processo.

Eis o que os policiais alegam: falta de segurança jurídica para trabalhar. O que nos deixa sem entender muito bem o protesto, eis que qualquer ato que envolva a morte de um cidadão, precisa ser investigado. O resultado não pode, claro, ser decretado antes dessa investigação. Aí é pré-julgamento. Mas se ouve erro, precisa de providências. E se não houve, então não há nada a temer. Mas não vou falar sobre o caso. Seria infantilidade ou mero achismo dar pitaco em algo que não se sabe exatamente como aconteceu. Vidas humanas merecem mais respeito do que palpites ofensivos, seja para que lado penderem os argumentos.

Os policiais londrinos têm cerca de dez conflitos armados por ano. Bem diferente do Brasil. Que tem centenas de confrontos por dia! E uma legislação muito mais permissiva e cheia de voltas amigas da impunidade, bem como uma cultura de desrespeito ao ente estatal como cacoete. Além do mais, aqui no nosso país é inimaginável um policial, em sã consciência, andar desarmado, pois se espera um confronto a qualquer momento e em qualquer lugar. Aqui, bandidos desfilam de fuzil à luz do dia nas ruas de comunidades nas maiores cidades brasileiras.

Pois, com todo este contexto meio contraditório ao civilizado, nem aqui os policiais escapam de investigações rigorosas sobre os seus atos. Todas as polícias têm seus sistemas de correição efetivos. E todo policial que, por circunstância do ofício, é obrigado a matar alguém em serviço, já sabe que, mesmo que tudo sendo plenamente justificado, o fato será investigado e haverá o devido processo legal. Tudo para garantir a transparência dos atos de estado e oferecer garantias à cidadania. Francamente, os ingleses deveriam fazer um estágio por aqui.


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