Por que persiste o racismo absurdo no futebol?

Por que persiste o racismo absurdo no futebol?

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Era apenas mais um jogo de futebol entre times do interior do Estado, nesta última quarta-feira, em Ijuí. Valendo vaga nas semifinais da Copa FGF. São Luiz de Ijuí e Pelotas. Um jogo entre clubes já castigados pela elitização das verbas que privilegiam aquela meia dúzia de gigantes do futebol brasileiro, e que deixam a esmagadora maioria dos clubes do nosso país tendo que rebolar para manterem as portas abertas. Aí vem um torcedor e, do nada, no início do primeiro tempo, movido por sua falta de respeito, educação e humanidade, ofende um jogador do time visitante com injúrias raciais. O juiz parou o jogo e acionou a Brigada Militar. O caso parou na delegacia. Afinal é crime. E não dá para deixar barato. Que bom. Que seja bem punido esse cidadão, que não contou com a complacência nem do time para o qual torce – nota da diretoria do São Luiz, repudiando o ocorrido, foi enfática –, nem de companheiros de torcida, que não hesitaram em colaborar com a polícia e apontar o responsável pelas ofensas absurdas. 

Francamente, confesso para vocês que não vejo diferença entre um estuprador e um racista. Ambos violam a dignidade alheia sem qualquer pudor, munidos de uma violência prepotente e estúpida. Agora, o que torna esses casos tão corriqueiros nas nossas arquibancadas? Em junho, talvez motivado pelo que aconteceu ao jogador Vinícius Júnior, na Espanha, a Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal discutiu, em audiência pública, o combate ao racismo no futebol. Muitas sugestões, como punição mais rigorosa a clubes e torcedores por atos racistas. Na prática, porém, segue tudo como sempre foi cá entre os mortais do mundo real. O senador goiano Jorge Kajuru, que acompanha futebol há uma vida como jornalista, ainda frisou que o problema não está só nos estádios. Ou seja, é educação. Pois isto acontece justo num país cujo maior ídolo da história deste esporte foi Pelé, um negro que ganhou a admiração do mundo inteiro e ajudou a tornar o Brasil mais respeitado além da bola. Muita ingratidão vermos o racismo logo no futebol de Pelé.

Uma pena, os fatos se repetem ano após ano, campeonato atrás de campeonato. Como os clubes podem controlar melhor seus torcedores? Campanhas de conscientização são uma boa medida, até porque adivinhar quem são os boçais num estádio e colar a boca deles com esparadrapo, para que não possam gritar suas estultices, fica meio difícil. Estímulo, educação, incentivo. Não pode é dar de ombros e seguir como se nada tivesse acontecido, pois a passividade só incentiva que se repita qualquer tipo de crime. E nos resta, ainda, esperar que tantos debates repetidos sobre o mesmo tema ganhem, um dia, alguma ação de fato. Que se aperte a legislação, as punições, e que inclusive que a pena seja multiplicada para o agente público que tiver comportamento discriminatório. E que os gestores que não investirem em educação de verdade sejam alcançados pela lei como facilitadores do crime. Pra ontem. Sem mais blábláblá.


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