O trem venezuelano do crime

O trem venezuelano do crime

"Tren de Aragua", uma das organizações criminosas mais violentas da América Latina, nasceu de um sindicato e já tem centenas de integrantes ocupando "cargos estratégicos" aqui no PCC. O governo do ditador Maduro fez uma operação de "retomada" do centro penitenciário de Tocorón, base do grupo. O que era para ser cadeia tem zoológico, parque de piscinas, uma das discotecas de luxo mais badaladas do país e muito mais. O governo de lá só soube disso agora? Ou a impunidade servia à ditadura venezuelana?

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Você pode ler a matéria completa aqui no CP. E basta um olhar de soslaio para já desconfiarmos que a ação "de segurança pública" do governo venezuelano foi só mais um desses teatros fantásticos, típicos das ditaduras de republiquetas. Uma tropa gigante governamental faz um desfile de forças para retomar o centro penitenciário de Tocorón, base do "Trem de Aragua", uma das facções criminosas mais violentas que assolam o nosso continente. Porém, até então, o governo ditatorial permitiu que os criminosos não apenas tomassem conta do que era para ser uma cadeia, mas que construíssem um gigantesco centro de lazer de luxo.

Piscinas, áreas recreativas para adultos e crianças. Uma das casas noturnas mais badaladas do país, a Disko Tokio. A "prisão" ainda tem centro hípico, restaurantes, complexo de lojas e mercados - onde nunca faltou nada, nem quando a inabilidade econômica do governo Maduro esvaziou prateleiras e deixou o povo praticamente sem ter onde comprar comida -, zoológico (pasmem!), campo de beisebol, academia, quadras de futebol e basquete e até banco! Que não era assaltado, obviamente. É um imenso parque.

Pode-se dizer, sem qualquer dúvida, que os criminosos gestores deste pequeno paraíso venezuelano são muito mais competentes que o próprio presidente do país, ao proporcionar tanto conforto aos seus integrantes e familiares. Que a gente conversa com os refugiados que vem de lá e procuram abrigo aqui nas nossas cidades, implorando por qualquer trabalho de salário mínimo que dê uma chance de recomeço, e o que se ouve deles é só miséria e perseguição política aos asdversários, nada além.

A confortável cadeia privada de Pablo Escobar, que o mundo conheceu com ao advento das séries sobre o traficante colombiano, ou o privilégios dos políticos brasileiros presos por corrupção que volta e meia são flagrados numa rotina mais de nababos que de condenados, são fichinha perto do grande parque do crime construído pelos "pranes".

O Trem de Aragua nasceu de um sindicato de trabalhadores que trabalhavam na construção de uma ferrovia que ligaria os estados de Aragua e Carabobo. Das reivindicações trabalhistas, passaram logo ao sequestro, tortura e extorsão dos empreiteiros como modo mais fácil, e mais lucrativo, de conseguir dinheiro. Em 2013, preso um de seus líderes, na cadeia ele teceu alianças e fez o grupo crescer. Em seguida, criaram uma ONG legalizada para receber recursos do governo, inclusive da então ministra das prisões do país. Nada de novo no front, para quem observa com atenção como as coisas acontecem por aqui também.

Para se ter uma ideia da violência desse grupo, e do estranho comportamento político da trupe do ditador, o governador de Aragua desmantelou boa parte do aparato policial que poderia enfrentar "El Tren". Em San Vicente, os criminosos estabeleceram que seria sua zona de paz e expulsaram todos os policiais e suas famílias de casa. Quem não saiu no prazo determinado, foi sumariamente executado. A família toda. Chacinas de policiais, mulheres e crianças. E o governo dando de ombros.

As ações do grupo, como tráfico de drogas e armas, roubos, sequestros, assassinatos por encomenda, tráfico de pessoas e contrabando de imigrantes são o cerne dos negócios. Recentemente, se descobriu que centenas de venezuelanos haviam sido mandados para o Brasil, como se fossem refugiados políticos, para integrarem o PCC, num acordo "de negócios" entre as duas gigantescas facções criminosas. Hoje, esses bandidos espalham terror em diversos países do continente, como, por exemplo, Peru, Chile, Colômbia, Bolívia e Equador.

O que se pergunta, agora, é qual o real objetivo dessa "ação" teatral por parte de quem deixou essa "corporação" do crime crescer tanto. Quase certamente, até hoje, colhendo benefícios políticos (votos ou violências, nestas casos eles sempre se confundem) por permitir a impunidade e a vista grossa para tantas ações violentas. Enfim. Mais um pitoresco (ainda que macabro, nas entrelinhas) capítulo da história de nosso país vizinho.

 


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