O velho debate sobre a Cannabis

O velho debate sobre a Cannabis

Queremos falar de flexibilização da legislação sobre consumo da maconha? Há que se falar de Ciência. De conhecimento de verdade. Há que se falar de impacto na saúde pública, onde não é só o indivíduo consumidor que conta, mas o coletivo inteiro. Há que se falar de impactos na infância e na adolescência. Na economia. Há que se considerar de forma séria os reflexos na segurança pública. Nos gastos públicos. Haverá evolução ou retrocesso? Haverá paz ou ainda mais medo? O que melhora e o que piora, e o que importa mais para o todo?

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Todo debate que trata sobre transformações significativas na vida de um povo deveria, obrigatoriamente, ter apenas os aspectos científicos (de todas ciências) levados em conta. A contaminação de argumentos fomentados por política partidária nunca serão confiáveis. São meros mugidos de boiada. E digo política partidária mesmo, não base ideológica, não dá para confundir uma coisa com a outra. Primeiro, porque tem partido que nem se sabe em qual ideologia ele finge se encostar. E, acima de tudo, porque a ideologia é uma convicção, uma visão do mundo que nasce da avaliação profunda de conhecimentos e experiências do indivíduo. Não é rasa. Seja qual for. Se for algo raso, me desculpem, não é ideologia, é só mais uma baboseira repetida. E o que se vê hoje, às pencas, é uma troca de farpas sem qualquer profundidade, reproduções papagaiescas de um lado e de outro, vinculadas apenas ao compromisso firmado com algo ou alguém, ou a alguma fanatismo cego (redundância, perdão, eis que todo fanatismo é cego), mas despido de qualquer solidez realmente argumentativa. Estultices com eco. Infelizmente. Vide redes sociais.

O bom e velho debate sobre o uso da Cannabis, tão necessário há tanto tempo, parece ter definitivamente arregimentado hordas de energúmenos uniformizados desta ou daquela cor com o propósito de rebaixar a questão à tagarelice agressiva dos pretensos “esquerdas” ou “direitas” (ou seja lá no que a deturpação desses conceitos históricos transformou esses grupos). Lamentável. E pode ser que, a exemplo de outros países, decisões importantíssimas sobre o tema sejam influenciadas por estes debates tão acalorados quanto rasos. Queremos falar de flexibilização da legislação sobre consumo da maconha? Há que se falar de Ciência. De conhecimento de verdade. Há que se falar de impacto na saúde pública, onde não é só o indivíduo consumidor que conta, mas o coletivo inteiro. Há que se falar de impactos na infância e na adolescência. Na economia. Há que se considerar de forma séria os reflexos na segurança pública. Nos gastos públicos. Haverá evolução ou retrocesso? Haverá paz ou ainda mais medo? O que melhora e o que piora, e o que importa mais para o todo? Que as bocas oportunistas se calem e deixem a palavra com quem realmente leva o assunto a sério.

Meu medo é bem simples e nasce na Educação. O Brasil é, há mais de cinco séculos e sem conseguir uma única reversão histórica desse ritmo, um fiasco na valorização da Educação de seu povo. Não sabemos educar. O álcool é uma droga liberada e regrada por uma penca de legislações, mas o que se vê são mortes todos os dias e ele está lá, no cerne da ocorrência. Somos um povo que falsifica até o leite de nossas próprias crianças para lucrar, imagina com o comércio de uma droga como esta. Quais serão as ações que falarão aos pais e seus filhos sobre limites e respeito, sobre efeitos e consequências? As mesmas de hoje – ou seja, sempre dependendo da voluntariedade de uns poucos apaixonados pelo sonho de viver num país melhor? Ou teremos apenas mais uma indústria a lucrar com a desgraça de nosso povo, como as que lucram com a ignorância, com a fome, com a miséria e com todas as faltas que nos cercam. Quero respostas de verdade a estas perguntas. Além de para todas as outras.


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