Dever, solidariedade e lições

Dever, solidariedade e lições

Oscar Bessi

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anhã de sábado. O barco do Pelotão Ambiental da Brigada Militar de Montenegro sacudia, teimoso, contra a correnteza enfurecida do rio Caí, na principal avenida da cidade. Eu pensava, naquele instante, nesse raro mistério chamado dignidade e comprometimento que motivava a soldado Luciana a deixar sua casa, seus filhos e ir, na contramão de todos, rumo ao perigo no meio das águas, a fim de cumprir com o seu dever. Ou os sargentos Silva e Oleques a não arredarem pé do seu posto, mesmo ilhados. O que levou policiais militares do 21º BPM, treinados para o combate diuturno do crime na Capital, a se unirem sem pestanejar aos bombeiros militares no Lami, em Porto Alegre, e mergulharem na enchente para resgatar diversas famílias indígenas, vítimas do ciclone extratropical que castigou nosso estado. Em barcos, aeronaves ou caminhões, em todas as áreas atingidas a mobilização da Brigada Militar era acompanhada de perto pelo comando da corporação, que mobilizava recursos em sintonia com a Defesa Civil do Estado, ao mesmo tempo em que agradecia o empenho e a entrega de todos os seus integrantes envolvidos em buscas, socorro e amparo.


Em Caraá, município mais atingido pela tragédia no RS, uma aula de ação humanitária. A escola Marçal Ramos, única da rede pública estadual na cidade e que atende nada menos de 420 alunos, foi atingida em cheio pela enchente. Um cenário de caos. Dezenas de soldados da BM arregaçaram as mangas e foram ajudar os professores na reestruturação do educandário. Graças a esta iniciativa, deliberada pelo Comando-Geral junto às autoridades engajadas no processo, na próxima semana as aulas já poderão ser retomadas. Os números, aliás, mostram que as ações da Brigada Militar, nesta catástrofe, reforçam que a instituição é vocacionada para salvar vidas, como sempre frisa o coronel Feoli: cerca de 17 mil policiais militares atuaram nos eventos críticos do ciclone, transportando mais de duas mil cestas básicas e 500 fardos de água. Em torno de 1,2 mil pessoas foram resgatadas pelas unidades da BM. Quatro aeronaves do Batalhão de Aviação, dois caminhões e uma carreta do Departamento de Logística, além dos barcos do Comando Ambiental e das viaturas diversas do policiamento ostensivo formaram uma frente gigante, mobilizada para ajudar os gaúchos.


De toda situação adversa, ficam lições. E desse ciclone, nem é a de que contamos com a presença da Brigada Militar em todos os momentos, do resgate à reconstrução. Disto já sabemos. Das tragédias e do dia a dia. Mas fica o principal ensinamento de que a natureza está, cada vez mais, cobrando um preço alto pela nossa insensatez e irresponsabilidade. E que não precisamos esperar os horrores das consequências para nos anteciparmos e valorizarmos o que é de fato essencial. Outros ciclones virão. Seriedade, vontade, respeito, coerência e antecipação precisam se unir urgentemente em nossas almas. Temos que ouvir mais quem nos alerta e ensina. Esquecer o egoísmo, o imediatismo e a superficialidade que desdenha o conhecimento. Vamos colaborar, conosco e com todos. Dar as mãos também nos dias calmos e buscar, juntos, a vida mais segura. Com humildade. Que saber aprender também é prevenir. 


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