O estranho e lírico mundo de Pellanda

O estranho e lírico mundo de Pellanda

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Escritor curitibano lança livros de contos neste sábado, 16h, em Porto Alegre

Por Luiz Gonzaga Lopes

Após quase uma década de sua estreia com o livro de contos “O macaco ornamental” (2009),  o escritor curitibano Luís Henrique Pellanda retoma o gênero conto em “A Fada sem Cabeça” (Arquipélago Editorial) que ganha lançamento neste sábado, 8 de dezembro, às 16h, na Casa Guandu (Rua Mata Bacelar, 52, bairro Auxiliadora), em Porto Alegre. Leitor contumaz dos seus três livros de crônicas, destaco “Asa de Sereia” como o mais perfeito livro de olhares sobre o intangível de Curitiba dos últimos tempos, se inscrevendo na linhagem dos seus conterrâneos Dalton Trevisan e Valêncio Xavier, cada qual em seu gênero. Nesta obra, com 28 contos que misturam memória e pesadelo, personagens com experiências traumáticas, o autor reconstrói em speculum contístico as suas próprias narrativas.

 

Por absoluta falta de tempo e por ainda não ter o livro para manusear, li apenas alguns dos textos e destaco aqui o conto “Boleros de Natal”, que traz a esperança em meio ao que seria uma época de tristeza e reflexão, o Natal, que casualmente está se avizinhando novamente.  O mal-estar que podia ser revelado por um homem buscar um bar aberto na madrugada de Natal para comprar um maço de cigarros (só tem Plaza) e se deparar com homens gordos dançando entre si e o convidando para o baile desajustado acaba se tornando um belo libelo sobre a liberdade de alvorecer em meio ao que seria uma treva. Pellanda trata também do mito da amizade masculina, das relações amorosas torpes e selvagens, no sexo idealizado, nas relações de poder, religiosidade, histórias que podem atingir qualquer um em determinado momento da vida, as misérias cotidianas, o estranho mundo dos contos de Pellanda, mas com o lirismo daquele olhar apurado de cronista que encontra o detalhe imperceptível do contista. Há o agenciador de encontros amorosos entre um artista e suas fãs, o jornalista que cobre concursos de miss, o menino que tenta salvar o pai fascista da depressão, o anjo disfarçado de morador em situação de rua. É o lirismo, a luz que o texto dá a estes brutos que também amam, também vivem, sempre sofrem, mas extraem lições. O escritor José Luiz Passos nos ajuda a entender esta obra de contos que nos cativa: “Valendo-se de personagens marcados por uma grandiosa miséria de espírito, Luís Henrique Pellanda nos oferece um livro excepcional, sem nenhuma frase excedente. Encadeadas com sutileza por temas e imagens que voltam como motivos musicais, as narrativas revelam um retrato complexo das seduções e dos horrores no êxtase da fascinação.”

Cara que eu admiro muito como pessoa e escritor, Luís Henrique Pellanda nasceu em Curitiba (PR), em 1973. Escritor e jornalista, é autor dos livros “O macaco ornamental” (contos), “Nós passaremos em branco” (crônicas, finalista do Prêmio Jabuti 2012), “Asa de sereia” (crônicas, 2013) e “Detetive à deriva” (crônicas, 2016) e organizador dos dois volumes de “As melhores entrevistas do Rascunho”.

 

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