Apostas eleitorais

Apostas eleitorais

De olho em 2022

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 É sabido que a história gosta de coincidências improváveis e de acertos de contas novelescos. Esse é certamente o maior perigo para a candidatura do presidente Jair Bolsonaro. O roteirista invisível pode colocar Lula e Sérgio Moro num segundo turno para um encontro de romance. Tudo isso que muitos chamam de nexo causal pode ser apenas o resultado de uma série aleatória de acontecimentos. A força magnética das coincidências, porém, é indiscutível. Moro conta também com dois grupos de apoiadores: os decepcionados com o capitão e os que não compraram a versão de que a Lava Jato não foi legal com Lula.

      A partir de agora tudo dependerá de quem vai pisar mais ou menos na bola. Lula já derrapou duas vezes: ao passar pano para o ditador da Nicarágua e ao reavivar o tema da regulação da mídia, que, em certa versão de esquerda, seria simplesmente impedir a veiculação de coisas incômodas. Sérgio Moro tem apagado dados desagradáveis à sua biografia. Afirma que os tribunais superiores confirmaram suas sentenças, o que é verdade, mas não cita que o Supremo Tribunal Federal o considerou parcial e anulou tudo o que ele havia decidido.

      Eis o nome da coisa: guerra de narrativas. E ai de quem se meter a opinar categoricamente sobre uma ou outra. A aposta de Bolsonaro é bastante objetiva: o Auxílio Brasil. O chamado Centrão incomoda muita gente. Só não incomoda tanto os eleitos. Esquerda e direita não governam sem o Centrão. Logo, um não pode criticar o outro por tal parceria. Moro já disse que tem gente boa em todos os partidos. No Brasil, alianças são feitas antes e depois das eleições. Nunca é tarde para embarcar no trem vitorioso. No parlamentarismo, como o alemão, colhidos os votos começam as negociações. É possível sair casamento entre esquerda e direita. A diferença é que quando o matrimônio acaba, termina o governo. Aqui, dá para continuar morando na mesma casa.

      Moro está gostando do novo papel. Anda bem soltinho. E já conquistou novos apaixonados. Dá para sentir o entusiasmo de jornalistas como Merval Pereira e Eliane Cantanhêde. O famoso mercado também começa a revelar que está seduzido por essa “terceira via” repaginada com ajuda de treinamento de oratória e fonoaudiologia. O jogo está bastante aberto para desespero de muitos. Alguns gostariam de antecipar a eleição para janeiro de 2022 ou arrancar alguns meses do calendário. O grande desafio de todos será o mesmo: como se livrar das cascas de banana que serão jogadas no caminho pela mídia e pelos adversários? Uma resposta inadequada deixa estragos, mas, muitas vezes, faz a alegria do apoiador raiz, aquele que morre pelo líder.

      Bolsonaro aposta que Moro vai bater logo no teto e que Lula vai desandar. Moro e Lula sabem que a economia é o fiel da balança. Se melhorar, Bolsonaro cresce. Não podem, contudo, torcer abertamente contra o país. O ex-juiz e o ex-presidente acreditam que têm um encontro marcado em O.K. Corral (o melhor do Velho Oeste). Se esse duelo acontecer, num segundo turno, não haverá papel para mediador.


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