Educação poliédrica

Educação poliédrica

Formação do futuro

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      A União Europeia está preocupada com a educação do futuro. Nenhum tema parece tão importante. Trata-se de forjar o ser humano poliédrico: sólido, subjetivo e resiliente. Um sólido em três dimensões. A base dessa formação terá os seguintes elementos: complexidade, imaginário e resiliência. A complexidade busca o todo. O imaginário abre para a apropriação singular do mundo (construção que coloca aquele que aprende no centro de uma atividade). A resiliência se traduz em flexibilidade.

      A educação do futuro será um todo côncavo e convexo. O aprendizado, pois ainda é disso que se tratará, se dará por muitas estratégias associadas, metodologias ativas e ativadas: fazer, saber fazer, fazer fazer, refletir sobre o fazer e reinventar o fazer. Todos os sentidos serão valorizados, inclusive o ouvido. Toda uma tradição de aprendizado pela escuta será revalorizada. Não deixa de ser incrível que o centenário Edgar Morin seja ouvido. O saber acumulado pelo humano encontrará nova dimensão. Ainda que as máquinas possam tudo memorizar, a memória humana será vista como uma lente especial, produtora de sentido.

      Claro que não se vai opor uma educação maquinista a uma educação humanista. A ideia antropocêntrica do humano como medida de todas as coisas está superada. O mesmo não se dá com o fato de que só o humano tem subjetividade complexa verificada. O que isso informa? Que o humano aprende na exploração máxima do subjetivo. É um aprendizado para si. Duas vertentes tidas por antagônicas terão de encontrar-se: a utilitária e a poética. A primeira requer funcionalidade e aplicação. A segunda explora o imaginário como lugar da produção significativa do eu. O que se buscará? Um indivíduo singular voltado para si e para o social. Esse indivíduo terá faces de espiritualidade, cultura e sustentabilidade.

      Uma afirmação do filósofo e escritor Albert Camus, escrita em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, encontrará nova leitura. Ficará assim: “Um ser humano independente, em 2039, não se desesperará e lutará pelo que acredita ser verdadeiro como se a sua ação pudesse influenciar o curso dos acontecimentos. Não publicará nada que possa incitar ao ódio ou provocar o desespero. Tudo isso estará em seu poder”. Aprenderá a não servir à mentira. A honestidade será o seu Norte. O professor terá um lugar fundamental: participação na abertura para o singular, lançando as pontes entre o utilitário e o poético. Tudo isso implica uma reforma da formação dos formadores. O que se almeja? Uma fusão entre forma e conteúdo. O contador de história precisará estar dentro da história. Não se imagina uma boa educação sem um educador.

      A tecnologia será instrumento de educação. Sem “ideologia tecnicista”. Ou seja, sem crença numa educação pela força única e própria da tecnologia. Em vez de opor o humano ao tecnológico, ou de privilegiar a tecnologia, o que predominará será a tecnologia a serviço do humano. Enfim. Eis o projeto. Nele cabem jovens e anciãos, saberes diversos, perspectivas complementares, olhares convergentes, poesia.


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