Depois do Black Mirror

Depois do Black Mirror

Livros para abrir horizontes

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    Qual o melhor livro que já li? Que pergunta. Mas ela é feita com frequência. Já soube a resposta. Não sei mais. Quais os livros que mais releio? “Conversa na catedral”, de Mario Vargas Llosa, e “Obras completas”, de Borges. O que mais li durante a pandemia? Machado de Assis: 31 volumes. Um livro que ainda me fascina? “O sol também se levanta”, de Hemingway. O que estou lendo agora? As últimas páginas da biografia de Samuel Wainer, “O homem que estava lá”, de Karla Monteiro. O que lerei depois? Um conto de Borges para me encantar.
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    Numa sentada só, nesta semana, li “Desastres” (Penalux), de meu amigo André Lemos, professor na Universidade Federal da Bahia. São microcontos. Engenheiro de formação, doutor em sociologia pela Sorbonne, professor e pesquisador em comunicação, especialista em cibercultura, tendo publicado livro em parceira com Pierre Lévy, André revelou, aos poucos, outro lado: poeta e prosador. Dos bons. Eu sei de muito que ele é grande leitor de ficção. Devorador de livros. Eu já havia gostado do seu romance “O fantasma de Beckett” (Sulina). Caro leitor, não fica aí parado: lê os microcontos “Pessoas”, “Frutas” e “Roubo”, do André Lemos. Depois me fala. Não tem como perder a viagem.
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    Agora, leitor, se quer pensar em tecnologia, ainda mais depois do apagão do Facebook (tudo bem), do Instagram (nem notei) e do WhatsApp (que desespero), aqui vai a dica: “Aurora digital, nossas vidas além do Black Mirror”, dos italianos Claudia Atimonelli e Vincenzo Susca. Show de reflexão e de cultura. Eu, que larguei a série e fui comprar pêssegos, tomei um tranco. Isso é que é fazer de uma imagem, ou de um conjunto delas, uma arte de pensar: “Game over. Mas o jogo acabou de vez ou apenas atingimos um novo patamar?” Eis o ponto.
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    Se o leitor se garante no espanhol e gosta de filosofia, aqui vai o que estou lendo nos começos das manhãs, quando o sol banha a minha biblioteca e me inunda de esperanças no dia: “La indefinibilidad de ‘Bueno’ em G.E. Moore”, do ex-reitor da PUCRS, Joaquim Clotet, a quem admiro muito. O prefácio é do professor Nythamar de Oliveira, sofisticado estudioso da pós-modernidade. Um livro sobre ética, história da ética. Ler faz a reclusão da pandemia ficar mais leve.
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    Vejo futebol e séries. Foi-se o último capítulo da série espanhola “As telefonistas”. Virou um novelão ao longo do interminável caminho (quatro temporadas). Jogo sempre tem. Às vezes, falta futebol. Adoro ver as teses modernas ruírem a cada bola. Até aí, tudo bem. Então sucumbimos com atentados como a da mesquita no Afeganistão.
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Uma manhã banhada de sol
É tudo que peço à noite
Lavada de sal e de ventos.
Por que gosto dessa luz crua?
Por que sorrio para esse brilho?
Porque renasço antes de anoitecer.
Por um instante sou a lua.

 


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