Epigramas do pós-tudo

Epigramas do pós-tudo

Vagas na Academia Brasileira de Letras

Juremir Machado da Silva

Dois candidatos parecem imbatíveis: a atriz Fernanda Montenegro (foto) e o músico Gilberto Gil

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Pós-tudo    

Das coisas que aprendi depois da morte dos discos: em tempos sombrios e de escassez de energia, a única luz possível é o sol. Como diria Diógenes a Alexandre, o grande, por favor, não o tape. Afaste-se.
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– Quem pensa, não casa.
– Já sou casado.
– Não disse.
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    O jovem tem todas as certezas do mundo. O ancião erudito todo um mundo de certezas. O homem de meia idade é velho para o jovem que sabe tudo e jovem para o velho sábio, que o vê como quem não sabe nada.
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    A nostalgia só diz: o que eu fiz é bom; o que é bom eu fiz.
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    Sabedoria universal: nunca responda a uma grosseria com outra grosseria. O agressor poderá não suportar o troco. A primeira grosseria será chamada de crítica e de franqueza. A resposta, de falta de educação ou de ressentimento. Moral sapientíssima e intemporal da história: é muito mais agradável dizer uma grosseria do que ouvir outra.
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Mesmo que o assunto seja de pouco interesse para a maioria, há quatro vagas para a Academia Brasileira de Letras. Não faz muito tempo, a escritora negra Conceição Evaristo tentou e só conseguiu um voto. Perdeu para o cineasta Cacá Diegues. Agora, dois candidatos parecem imbatíveis: a atriz Fernanda Montenegro e o músico Gilberto Gil (um dos nossos Bob Dylan). O jornalista Edney Silvestre, autor de um livro de relativo sucesso, já se vê como imortal. O escritor indígena Daniel Munduruku está no páreo, mas, pelo jeito, não terá vida fácil.

Joaquim Nabuco, um dos pioneiros da ABL, em carta a Machado de Assis, deu os argumentos para que a porta da instituição fosse grande: “V. sabe que eu penso dever a Academia ter uma esfera mais lata do que a literatura exclusivamente literária para ter maior influência. Nós precisamos de um número de grands Seigneurs de todos os partidos. Não devem ser muitos, mas alguns devemos ter, mesmo porque isso populariza as letras”. A tese acabou vitoriosa. Uma das vagas em disputa agora é a do acadêmico Marco Maciel, que foi vice-presidente da República. Getúlio Vargas também foi eleito imortal. José Sarney ainda goza esse feito.

Nabuco disse mais: “A Marinha não está representada no nosso grêmio, nem o Exército, nem o Clero, nem as Artes, é preciso introduzir as notabilidades dessas vocações que também cultivem as letras. E as grandes individualidades também. Assim o J. C. Rodrigues, o redator do Novo mundo, o chefe do Jornal do Comércio, que nesse momento está colecionando uma grande livraria relativa ao Brasil, e o nosso Carvalho Monteiro, de Lisboa? A este, o Mecenas, V. poderia dar o voto de Horácio”. Nabuco queria o almirante Jaceguai. Machado respondeu: “O Jaceguai merece bem a escolha da Academia, mas ele não se apresentou e, segundo lhe ouvi, não quer apresentar-se”. Faltava-lhe publicação.

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Nesta quinta-feira, 16 de setembro, às 14h horas, haverá uma sessão cultural especial da Academia Nacional de Medicina, com a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, membros da Academia Brasileira de Letras, e com a participação do acadêmico Prof. Gilberto Schwartsmann - falando sobre a Divina Comédia - e o Prof. José Francisco Alves - abordando a obra do pintor Cícero Dias. Acesso livre pelo site.


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