Essas mulheres maravilhosas

Essas mulheres maravilhosas

Feminino plural e multidimensional

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    O mundo mudou. Essa obviedade nem sempre está ao alcance de todos. É muito fácil continuar pensando com velhas categorias. Precisamos ser transdisciplinares (pensar fora da caixa), complexos (fugir das simplificações que dividem) e pluralistas. Onde vai essa conversa? Durante muito tempo o gosto dos outros foi massacrado. Os homens mandavam e desmandavam. Felizmente as mulheres pularam a cerca e estão desarrumando a casa dos eternos donos do pedaço. Bom é o que encontra um público, faz gente feliz e alimenta o corpo e a alma. Pensei nisso lendo sobre Karinah, descrita como nova força do pagode. Ela é casada com um magnata catarinense do setor elétrico. O casal acaba de comprar por R$ 45 milhões a mansão da Xuxa, no Rio.
    Mulheres estão arrasando também na música sertaneja faz horas, reduto tradicional de duplas masculinas. Simone e Simaria, Maiara e Maraisa, Marília Mendonça e Paula Fernandes não me deixam mentir. Nem eu pretendia fazer isso. Mas é sempre bom ficar de olho. Em outro registo, só dá Luiza Sonza E no futebol! As mulheres narradoras estão dando show. Renata Silveira está fazendo muito marmanjo de voz grave babar de inveja. Os confins da alma podem ser um brejo onde príncipes se revelam sapos amargurados e frágeis. Karinah nasceu em Curitiba, saltou para a carreira nacional depois de abrir um show de Ivete Sangalo e já enfrentou muito preconceito de homem ressentido. Ela está bombando com a música “No fim do mundo”. Tem o aval de Alcione.
    Karinah quer mais mulheres na área. Para isso investiu no projeto “Cá entre nós”, colocando 27 mulheres em cena. A mídia do centro do país já se dobrou ao potencial da moça. Ela conquistou um público. A época da hierarquia de gostos é uma flor que murchou. Uma imagem como essa exige muita inspiração. Guy Debord fez a crítica mais corrosiva do espetáculo, que não diria nada além de “o que é bom aparece, o que aparece é bom”. Talvez seja necessário refazer essa fórmula: “O que faz feliz e encontra um público honestamente é bom”. Quem manda no campinho do entretenimento brasileiro atualmente é uma mulher superpoderosa: Anita. Muita gente torce o nariz. Ela triunfa.
    Findas as revoluções, vicejam as metamorfoses. Essa é uma boa frase para um cartão de aniversário ou uma agenda, quem sabe até para uma epígrafe de livro. Ela pode ter como complemento esta outra: depois de milênios de dominação masculina, as mulheres redesenham a vida. A brincadeira é para as despesas de estilo. O conteúdo é muito sério. Velhas hierarquias desabam. O modelo falocêntrico (belicista) entra em declínio ou sofre abalos. Outras vozes de fazem ouvir. No meio intelectual, as vozes de Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro e Sueli Carneiro abrem brechas nas narrativas masculinas e brancas.
    Como não ouvir esta afirmação contundente de Sueli Carneiro? “Nós, mulheres negras, somos a vanguarda do movimento feminista nesse país; nós, povo negro, somos a vanguarda das lutas sociais deste país porque somos os que sempre ficaram para trás, aquelas e aqueles para os quais nunca houve um projeto real e efetivo de integração social”.

 


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