Da cozinheira de Castamar às Telefonistas

Da cozinheira de Castamar às Telefonistas

Séries para sair de casa sem levantar do sofá

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    Qual a melhor série para ver na Netflix considerando-se alguns pré-requisitos? Pouca violência, bons e maus momentos, nada reduzido a comédias pastelão, belas imagens, nada de histórias de psicopatas, serial-killers ou pedófilos, narrativas de vida, históricas ou não, alterando drama, reflexão, belas imagens, amor, política e sonhos. Entre as últimas que vimos, duas me pegaram: “A cozinheira de Castamar” e “Nada ortodoxa”. Dois filmes também me ocuparam deliciosamente o tempo em sábados à noite: “Duas rainhas” e “A última carta de amor”. Vou contar uma coisa: não me preocupo muito em saber quem são os diretores e os artistas. Esqueço os nomes rapidamente.
    “A cozinheira de Castamar” tem algo de novela. Resvala facilmente para uma sessão da tarde com perseguições a cavalo. Mesmo assim, mantém o interesse. Fala de preconceito, de hierarquias sociais ridículas, de superação, doença (pânico) e, claro, de amor. Tudo isso na corte de um rei com um parafuso solto, carinhosamente falando. Intrigas palacianas, amores homoafativos que podiam resultar em condenação à morte, mulheres fortes desafiando o poder dos homens, questões raciais embutidas nos conflitos, a série vale boa parte dos jogos do campeonato brasileiro, exceto quando o Inter faz gols.
    “Nada ortodoxa” conta história de uma menina de dezenove anos que foge de Nova York para Berlim em busca da mãe e de liberdade. Sentia-se sufocada no ambiente da sua comunidade judaica ultraortodoxa. Perguntei ao meu amigo Gilbert Schwartsmann se a série pega pesado nesse quesito. Respondeu que a achou interessantíssima e que ela faz uma abordagem equivalente à de qualquer outro fenômeno extremado. Não contarei mais. Direi apenas que nos faz pensar em conceitos como relativismo, universalismo, liberdade de expressão, arte, espiritualidade, privacidade, direito de fazer escolhas. Tudo.
    Pulo para os filmes. “A última carta de amor” pode ser visto como água com açúcar, embora sendo um relato simpático e até comovente. Uma jornalista acha uma carta tocante e vai atrás do remetente. Ao puxar o fim, encontra os protagonistas de um grande amor e abre-se também ela para o que lhe parecia impossível. “Duas rainhas” rende mais. Como quem ficar: Maria Stuart ou Elizabeth I?  A escocesa e a inglesa. A católica e a protestante. A bela e a fera. As primas que se odiavam e amavam. Não darei qualquer spoiler lembrando que, ao final, a segunda mandou executar a primeira. Em compensação, James, filho de Maria, unificaria as duas coroas. Pungente, forte, belo.
    Aviso aos navegantes (falava-se assim até longe do mar): já estou noutra: “As telefonistas”. Preciso comer imagens, devorar histórias, recompor o meu imaginário, sair da rotina, viajar sem sair de casa, delirar, conhecer mundos diferentes (sem ficção científica nem naves espaciais e uniformes platinados) e relaxar até dormir. Vez ou outra, abro a janela, olho e céu e me espanto com as nuvens. Em outras noites, aplaudo a lua cheia e lembro dos lobisomens de Palomas.

 


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