Oliveira Silveira contra o racismo

Oliveira Silveira contra o racismo

Poeta e ativista faria 80 anos

publicidade

    Eis o homem. Natural de Rosário de Sul, poeta e ativista do movimento negro, Oliveira Silveira completaria 80 anos de idade ontem. A morte, porém, interrompeu a sua trajetória brilhante em 1º de janeiro de 2009. Entre as façanhas de Oliveira Silveira está o fato de ter ajudado, e muito, a consagrar o 20 de novembro como dia da Consciência Negra. Formado em Letras, membro do Grupo Palmares, foi um combatente incansável e criativo. Poeta de grande qualidade estética, construtor de imagens fortes e precisas, retratou como poucos a história da opressão dos negros pelos brancos no Brasil.
Nos pés tenho ainda correntes,
nas mãos ainda levo algemas
e no pescoço gargalheira,
na alma um pouco de banzo
mas antes que ele me tome,
quebro tudo, me sumo na noite
da cor de minha pele,
me embrenho no mato
dos pelos do corpo,
nado no rio longo
do sangue,
voo nas asas negras
da alma,
regrido na floresta
dos séculos,
encontro meus irmãos,
é Palmar,
estou salvo!
    A luta de Oliveira Silveira continua. Combate ao racismo estrutural que atravessa a cultura brasileira de norte a sul, ano a ano, década a década, século a século. Para constatar a força estrutural do racismo no Brasil basta consultar os dados do IBGE. Ou ler jornais. Todo dia tem chamadas assim: “Negros são os que mais morrem por covid-19 e os que menos recebem vacinas no Brasil” ou “Negros são 79% das vítimas de mortes causadas por ações policiais”.
eu bato contra o muro
duro
esfolo minhas mãos no muro
tento longe o salto e pulo
dou nas paredes do muro
duro
não desisto de forçá-lo
hei de encontrar um furo
por onde ultrapassá-lo
    Poeta da resistência, da liberdade e do sofrimento, Oliveira Silveira foi marcante. Eu, que vivo fazendo perguntas ingênuas, pergunto: como foi que um cara desses não parou na Academia Brasileira de Letras? Aliás, faço outra pergunta: até quando a casa de Machado de Assis será dominada por senhores brancos, alguns sem obra literária?

 


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895