Paulo José e Tarcisão, grandes perdas

Paulo José e Tarcisão, grandes perdas

Dois artistas de talento e carisma

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    Partiram Paulo José e Tarcísio Meira. O Brasil gostava dos dois. Foram atores muito importantes. Duas celebridades enormes no país. Brilharam durante décadas. Quem já passou dos cinquenta, como eu, cresceu vendo Paulo José e Tarcísio Meira na televisão. Paulo José era gaúcho de Lavras, mas passou a vida no centro do país. Tarcísio nos marcou como Capitão Rodrigo. Paulo José vive em nossa memória contracenando com Flavio Migliaccio em “Shazan, Xerife e cia”. Até na morte há um sistema de hierarquia social. Paulo José merecia mais espaço e homenagens na mídia. A vida é assim. Em frente. Tarcísio morreu de complicações da Covid. Paulo José estava doente há tempos.
    Pensar em Tarcísio é pensar em Glória Menezes, que a Covid também atacou. Torcemos por ela. Pensar em Paulo José era pensar em Dina Sfat. O que eu gostava em Tarcísio e em Paulo José? Certa brasilidade. Eles eram talentosos – Paulo José talvez mais – e carismáticos – Tarcísio muito mais. Pareciam ter o Brasil na alma. Isso é bom? Eu acho. Sou nacionalista. Não vejo nacionalismo como sinônimo de xenofobia. Às vezes, para lembrar Nelson Rodrigues, a rejeição ao nacionalismo pode ser puro vira-latismo. Ser nacionalista bem temperado pode ser apenas valorizar o que está próximo, não se deslumbrar pelo distante por ser distante, ter esse sentimento de pertença, vibrar com o que somos capazes de fazer, nós e nossos vizinhos. Como nos Jogos Olímpicos.
    Temo que um dia ninguém mais torça por Inter e Grêmio, mas só por PSG, Manchester City e outros grandes da Europa. A globalização desterritorializa. Muniz Sodré, intelectual brasileiro, negro, baiano, poliglota, destaca o espaço, o lugar, o local como foco de resistência e pertencimento. A modernidade ocidental prefere o tempo, acelerado, vertiginoso, irrefreável. O afeto tem mais a ver com o espaço. Eu via no sorriso de Tarcísio Meira uma expressão de brasilidade. Era como se ele e Paulo José estivessem sempre dizendo: somos daqui como vocês. Muitos me fazem uma pergunta que considero bizarra. Está bem na moda:
– Não gostarias de passar o resto da tua vida na Europa?
– Tá louco!
    É a minha resposta. Eu amo o Brasil. Quero viver perto dos meus afetos, das paisagens que me tocam, de feijoada e caipirinha (que já não tomo), de escolas de samba e do nosso futebol. Se tiver de ir embora, será para Palomas. Sério. O que isso tem a ver com Paulo José e Tarcísio Meira? Tudo. Eles fazem parte desse imaginário que nos define, a mim e a muitos como eu. Imaginário que tem outras cores e histórias, “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, Inter de 1975 e 1976, Teixeirinha, Gildo de Freitas e José Mendes, Lídia Brondi, festas juninas, marchinhas de carnaval, Belchior, Raul Seixas, “Bem-Amado” e tanta coisa mais.
    Paulo José e Tarcísio Meira fazem parte dessa coleção de imagens e sensações acumuladas no álbum afetivo da vida. Tarcísio pegou Covid mesmo tendo tomado as duas doses da vacina. Fica uma lição: precisamos manter todos os cuidados. Vacina é a saída. Mas não há cobertura cem por cento. Ficamos bem menos jovens com essas mortes de gigantes.

 


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