Bicentenário da Independência

Bicentenário da Independência

Ano de 2022 será de muitas reflexões

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    Teremos, em 2022, muitas datas comemorativas para usar como pontos de reflexão: cem anos da Semana de Arte Moderna, 250 anos de Porto Alegre, bicentenário da Independência do Brasil. É data importante para ninguém colocar defeito. Porto Alegre é esta cidade que amamos. A Semana de Arte Moderna foi uma lufada de bons ventos na cultura brasileira. A Independência, proclamada em 7 de setembro de 1822, é nossa certidão de nascimento como nação autônoma depois de mais de três séculos de colonização portuguesa. Foi uma ruptura com continuidade, mas não deixou de ser um novo começo. Se a chegada dos portugueses criou um Brasil diferente daquele vivido por nossos povos originários, a soberania instaurada por D. Pedro foi uma conquista.
    Obviamente não havia retorno possível ao Brasil pré-cabralino. Era preciso avançar. Já estava constituída uma ideia de pátria, de identidade, de brasilidade, termos muito importantes no imaginário da época e que jamais deixaram de passar por atualizações. Essa tríade estrutural ainda não se encontrava completa. Era um processo, uma construção, um projeto. O iluminismo europeu, com sua aposta na razão, no progresso e na soberania, já alimentava utopias por aqui desde o século XVIII. A Inconfidência Mineira é o maior exemplo dessa vontade de autonomia. A história se faz pela força das estruturas e pela singularidade de certos personagens. Francisco Adolfo de Varnhagen, chamado por muitos de “Heródoto brasileiro”, escreveu uma “História da Independência do Brasil”, que não chegou a publicar em vida.
    É um olhar. Muitos outros existem. Historiadores olham o passado por meio de documentos e de lentes produzidas por suas personalidades ou suas épocas. A Independência, assim como a abolição, foi uma etapa fundamental, necessária, incompleta, em certo sentido. As narrativas são fascinantes. Independência ou morte? Nascimento de uma nação. A vinda família real portuguesa para o Brasil afetou para sempre o nosso destono. Na grande história, uma profusão de pequenas, com seus personagens e paixões, descortinou um horizonte. Toda história é como um romance, um folhetim, uma epopeia, um pouco de cada, um caldeirão de influências, de projetos, de acasos. Hipólito José da Costa, pioneiro do jornalismo brasileiro, dizia em 1820: “todo o sistema de administração está hoje arranjado por tal maneira que Portugal e Brasil são dois estados diversos, mas sujeitos ao mesmo rei...”
Tudo pedia a independência. Oliveira Lima mostra um traço ilustrativo: “O Rio de Janeiro em 1821 era uma cidade absolutamente sui generis. Colônia de Portugal até um lustro antes, não parecia uma cidade portuguesa: tinha todo o exotismo do Novo Mundo dentro da sua moldura tropical e americana, encaixilhando um arremedo de cidade peninsular, de ruas estreitas à moda árabe e chácaras de recreio à moda inglesa”. O Brasil já era Brasil. Faltava ser reconhecido. A independência, declarada por D. Pedro, com forte participação de Dona Leopoldina, é um dos três fatos mais marcantes do nosso século XIX, com a abolição da escravatura, de 1888, e a República, de 1889. Viajar para esse tempo é sempre uma deliciosa aventura intelectual.

 


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