Que semana!

Que semana!

Dias que parecem surreais

publicidade

    Tanques vão desfilar em Brasília em dia de votação de matéria do interesse do governo. O Internacional massacrou o Flamengo de Renato Portaluppi no domingo. Vive-se como se a pandemia tivesse acaba, mas a variante delta deita e rola.

Messi não é mais do Barcelona. Como é possível? Eles não haviam jurado ficar juntos até que a morte os separasse? No Brasil, o presidente da República disse, referindo-se a um ministro do Supremo Tribunal Federal, que a hora dele ainda vai chegar. O que isso pode significar? O presidente do STF reagiu cancelando uma reunião entre chefes dos poderes. A Câmara dos Deputados pretendia votar, pelas dez e meia da noite, de repente, uma proposta que muda radicalmente o sistema eleitoral brasileiro, saindo do proporcional (uma cesta de votos partidária) para o distritão, um modelo majoritário, jabuticaba do Afeganistão. Ficou para esta semana. Tramita também um projeto de reforma das regras eleitorais que coloca nas mãos dos próprios interessados o queijo, o pão, o vinho e a sobremesa. A ideia é tirar do caminho o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
    A política para os políticos. Mas não todos. Só os que comungam dos mesmos ideais: o fim de qualquer obstáculo à reeleição deles mesmos. Haveria um desejo de “realidade” no ar: voto de papel, eleição dos mais votados, sem considerações por minorias e votos de perdedores. De todas as ideias sugeridas, fico com algumas: pelo fim do PIX e peka volta do cheque de papel auditável; pelo retorno das passagens áreas impressas com capinha mais dura. Essas operações bancárias por aplicativo são perigosas: destroem o real. Não há mais lastro, não se pode tocar, não se vê o dinheiro, não há densidade, não tem cor, cheiro, nada. Tudo é virtual. Onde se vai parar com essa virtualização do mundo em tempos do remoto. Ou tempos remotos? Não há mais segurança. Tudo se volatiliza. Já há quem guarde o celular no cofre e defenda a volta dos orelhões com fichas de metal. Sem dúvida, o retorno do lastro em metal pode salvar a realidade.
    Se Faustão e Messi são demitidos, tudo é possível. Como dizia aquele barbudo famoso, tudo o que é sólido desmancha no ar. Assim como para alguns a Terra é plana, o virtual é visto como fake. Não passaria de um truque que ainda será desmascarado. A mensagem dos Jogos Olímpicos seria sólida: medalhas de ouro, prata e bronze. Auditáveis. Se bem que alguns resultados foram duvidosos. Enquanto isso os professores da rede estadual gaúcha estão cada vez mais no virtual. Não ganham aumento há sete anos. O saber que devem entregar, porém, é o mesmo: sólido e auditável. Como o Estado não emite dinheiro, certamente não se considera responsável pela sua desvalorização. De resto, o que se tornou o dinheiro? Um pix. Um pixel. Uma abstração. Como é que os supermercados não entendem isso?
    Quero a volta dos contos de réis, mas não do conto do vigário. Melhor mesmo seria o retorno do patacão, moeda de prata de 960 réis. Isso era real. Deve ser por essa razão que um falsário, há pouco, passou adiante uma cédula de 420 reais. Saudades da realidade fracionada e visível. Ainda há quem não creia no coronavírus. Afinal, ele não é auditável por qualquer um. Só é visto por especialistas em salas secretas. Quando Messi deixa o Barcelona só nos resta pedir vista da realidade.

E esperar que o clima pré-março de 1964 seja só uma lembrança de facebook.
    

 


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895