Brasil, brazil

Brasil, brazil

Nossas contradições estruturais

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    Não é fácil explicar o Brasil para estrangeiros. Muitos entendem Brazil. As perguntas que fazem são constrangedoras: por que não taxamos lucros e dividendos? Por que 20 mil pessoas praticamente deixam de pagar impostos sobre mais de 200 bilhões? Por que somos o quarto em tributação de consumo e vigésimo nono em tributação de renda comparando com um grupo de 34 países da OCDE? O Brasil vira Brazil na cabeça dos outros quando temos de explicar este enigma relembrado por José Paulo Kupfer: a nossa “carga tributária é, proporcionalmente, tanto mais baixa quanto mais alta é a renda do contribuinte”. Quem tem mais, paga menos. A reforma em tramitação pode piorar a situação.
    Como explicar que o feijão e o arroz estão sumindo da mesa dos brasileiros por causa do desemprego e da inflação? Outro quesito incompreensível para muitos não brasileiros é a nossa taxação sobre heranças, entre 2% e 8%. Em 2015, O Japão comia 55%. Os Estados Unidos da América ceifavam 40%. A Coreia do Sul, sempre tão presente nos exemplos dados pela direita, engolia 50%. O Reino Unido, 40%. Só tem comunista por aí. Os mais experientes sussurram: não dá ideia!
    Talvez possamos explicar o Brasil a esses estrangeiros lentos  com duas histórias de Machado de Assis do tão próximo ano de 1878:
    Eis a primeira:
“Agora que cada médico apresenta o seu remédio contra a febre amarela, não é fora de propósito mencionar um que a cozinheira Celestina descobriu. O qual foi exposto do seguinte modo:
— Para a febre amarela não há como refrescos e limonadas.
— Limonadas e refrescos? Disse o moleque.
— Sim, senhor; não há como isso. Em 1850 a filha do major B., onde eu
estava, caiu com a febre amarela; deram-lhe logo uma limonada, que se foi repetindo de hora em hora. Não tomou outra coisa até o dia em que morreu.”
    Vai a segunda:
“A febre amarela foi outra página do mês. Epidemia não há; mas... têm morrido algumas pessoas. Dizem que depois do Carnaval, cujas festas costumam ser delirantes, a febre levantará o estandarte epidêmico, e levará tudo até o Caju. Isto me disseram dois médicos, e creio que é a opinião de todos os outros. O remédio parece fácil, não é? Facílimo: adiar as festas do Carnaval para o inverno. Duvido muito que os festeiros suportassem a mudança. Ergo, cemitério.”
E assim fomos: da limonada à cloroquina, das eleições baseadas na renda às rendas preservadas pelas eleições, do silêncio de um ex-ministro do STF a uma entrevista sua que vai direto ao ponto:
– O senhor teme um golpe ou uma tutela militar? O regime sob o qual vivemos pode evitá-los?
Joaquim Barbosa – O Bolsonaro vem tentando isso. Ele povoou toda a administração pública com militares. Instituiu privilégios enormes para eles e tenta associá-los à sua agenda autocrática, nem um pouco democrática, ditatorial e golpista. Bolsonaro faz suas bravatas e ameaças, mas ele vem sendo contido sobretudo pelo Poder Judiciário pelo Supremo Tribunal Federal.
Que país é este? Brasil, Brazil, terra de desastres.
 

 


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