Bombeiros, heróis do cotidiano

Bombeiros, heróis do cotidiano

Homenagem aos mortos de Porto Alegre

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    Que profissão a de bombeiro! Fundamental e dura. Mais do que profissão, missão. Exige coragem, vontade férrea e certamente vocação. A história desses dois bombeiros, o primeiro-tenente Deroci de Almeida Costa e o segundo-sargento Lucio Ubirajara de Freitas, mortos no incêndio da Secretaria de Segurança Pública, em Porto Alegre, emociona. Os corpos foram finalmente encontrados. Os colegas trabalharam sem trégua para localizá-los. Questão humanitária e de ética. É assim que somos humanizados. Cada ser é sagrado e seus despojos não podem ficar pelo caminho. Deroci e Lucio são heróis, desconhecidos não faz muito, que honram uma corporação. Sentimentos às famílias. Foram-se os entes queridos. Ficam as marcas heroicas.
    Sim, isso é ser herói. Entrar num prédio em chamas para exercer o ofício escolhido e tentar salvar vidas. Fico imaginando o momento de avançar em meio ao caos, às chamas, à fumaça, ao desconhecido. Que coragem! Ainda bem que existem pessoas assim, que se dispõem a correr riscos por todos. O prédio que incendiou parecia ser um mais um desses exemplos de negligência. E assim se perdem vidas preciosas, que enlutam famílias, que partem cedo, que deixam saudades para sempre no coração dos que os amavam. Num momento como este, precisamos nos perfilar, mesmo na solidão de casa e do anonimato, para render homenagem a esses bravos, esses destemidos, esses valentes soldados.
    Uso soldado no sentido mais profundo do termo: aquele que se entrega a uma causa justa sem hesitação nem temor. Se uma criança diz que quer ser bombeiro quando crescer, sorrimos ou brincamos. Deveríamos aplaudir. Desponta algo nobre. Ser bombeiro não dá fama nem fortuna. É atividade simples, feita por gente simples, pessoas de coração e senso de comunidade. Atuam pelo bem público. Em que pensavam esses heróis quando avançavam para o perigo? Ouso imaginar que pensavam nos seus e, ao mesmo tempo, em fazer o melhor pelo bem de todos. Há profissões tão fundamentais e duras que deveriam receber de nós homenagens sinceras a cada ano: bombeiro, professor de ensino fundamental e médio, enfermeiro, etc. É tão difícil achar as palavras certas quando se tem como único guia a emoção. As coisas da vida, que surgem como notícias assustadoras, trancam a voz na garganta.
    Quero, como cronista menor, dedicar aos bombeiros Deroci e Lucio o meu modesto maior sentimento, aquele que a razão não traduz, que um estranho como eu não pode encarnar nem materializar. Vocês foram grandes, gigantes, valorosos. Fizeram o que está além das ideologias e de tudo mais. Ficamos, mais em vez, em dívida. Não há fatalidade. Há o que poderia ter sido feito e não, aquilo que deveria ter sido previsto e não foi, a antecipação que não aconteceu por alguma falha do sistema. O tempo e as perícias dirão, quem sabe, o que houve. Vocês ficarão na memória como combatentes inesquecíveis de uma tragédia que certamente poderia não ter ocorrido. Que as famílias se sintam abraçadas por todos aqueles que honram os heróis do cotidiano.

 


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