Quem é cringe?

Quem é cringe?

Eis a questão do momento

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Semana passada a discussão que bombou na internet foi sobre ser cringe. Será que o verbo bombar virou cringe? Cringe é o que os mais jovens pensam de coisas que os mais velhos fazem e podem ser vistas como mico ou como vergonha alheia. O termo é do inglês, com origem germânica. Os milienels são o que de cringe para a geração Z. Eu acho cringe total esse negócio de milienels e geração X, Y, Z. Conheci muitas pessoas na vida. Nenhuma geração. Cringe, pelo que apurei, é tomar café da manhã, pagar boleto e ler Harry Potter. Sempre achei cringe gostar de bruxinhos, que só ajudam a formar leitores de Paulo Coelho. A ideia de que é melhor ler do que não ler é um consolo.

Os neotáticos, que admiram treinadores como O MAR, aquele do Internacional que a onda levou, acham cringe o goleiro cobrar tiro de meta chutando a bola para o ataque. Bacana é sair tocando até perder a bola e tomar o gol. Aconteceram os dez gols assim, inclusive na Eurocopa, ultimamente. Cringe também é fala cafona, usar emojis e dar bom dia em grupos de WhatsApp. Velho é cringe. Por velho se entende todas as pessoas dez à frente de uma geração. Ver novela é cringe. Resolvi definir as dez coisas mais cringe para mim: fascismo, baixaria, cloroquina, camiseta da CBF, stalinismo, sertanejo universitário, viralatismo, deslumbramento tecnológico e juvenilismo.

Quem não for cringe depois dos 50 anos que atire a primeira pedra. Eu sou cringe uma dez vezes por dia. O cringe raiz toma café da manhã sentado, revisa os boletos a pegar no dia e usa caixa eletrônico para fazer transferências bancárias. Os mais extremistas garantem que usar dinheiro em cédulas é muito cringe. Qual será o partido político mais cringe do Brasil? Ou todo partido político é cringe? Não parei de falar cringe. Estou obcecado pela palavra. Fazer xixi mais de uma vez por noite é cringe ou sintoma de prostatite? Usar pantufas? Ter pé gelado? Mandar e-mail? Não gostar de live no instagram? Eu acho cringe total recorrer ao STF para ficar calado em CPI. Fiquei sabendo que há uma classificação das redes sociais: Facebook e twitter são cringérrimos com obituários, fotos de comida e textão de todo tipo.

Só o Insta e o Tik Tok se salvam. Livros com mais de trezentas páginas são cringe. Talvez com menos também. A juventude tem a certeza de ignorância, no sentido do desconhecimento de coisas, o que lhe permite classificar tudo impiedosamente. Os mais rígidos sistemas de hierarquia social são fabricados por jovens descolados em combate contra dinossauros, pais e cringes. Desculpem a redundância. Paradoxalmente os jovens embalam dinossauros fofinhos quando crianças. Devem ficar traumatizados. Nunca entendi a paixão da humanidade por dinossauros. Cringe é o que os cringe ainda chamam de brega, mas um brega turbinado, como dizer “amar é” ou chamar a pessoa amada de “mor”. Há testes fáceis na internet para saber quem é cringe. Quem resiste ao rótulo, por não querer ser velho, cai na rede na hora. Ser cringe, para os extremistas, é andar de táxi e ter carteira assinada. O que realmente não é cringe? Ver Edgar Morin, que completará cem anos de idade neste 8 de julho, abrir live em sua homenagem há dois dias.

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Meu lamento pela morte do grande jornalista gaúcho Walter Galvani.


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