Rodrigo Maia e o DEM

Rodrigo Maia e o DEM

Acabou em separação

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      Nada parecia mais indissolúvel sob o sol do que a relação entre Rodrigo Maia e o DEM. Viviam sob os holofotes como uma entidade única. Maia era o DEM, que era Maia. Quem poderia imaginar um sem o outro? Piu-Piu sem Frajola? Tom sem o Jerry? Adulto sem celular? O DEM teve o seu momento de encolhimento. Maia trabalhou duro para que ele não desaparecesse. Maia e o DEM tinham a mesma lógica, a mesma retórica, a mesma dinâmica: diziam-se de centro, inclinavam-se para a direita, simulavam rupturas e permaneciam onde o poder fosse mais generoso. O DEM já foi PFL, que foi Arena, o partido de sustentação da ditadura militar. Mudou de nome para não alterar o seu DNA. O que provocou a separação?

      O DEM apaixonou-se por Jair Bolsonaro. Como presidente da Câmara dos Deputados, Maia não revelou ardor nessa paixão. Mesmo assim, jamais deixou passar algum pedido de impeachment contra o presidente da República. Era o melhor inimigo que Bolsonaro podia ter em posição tão estratégica. Melhor do que um bom inimigo, porém, é ter um amigo. Arthur Lira, o atual presidente da Câmara dos Deputados, faz mais o gênero do presidente da república para um amor hetero. Tem seus dias de DR, mas logo passa. Rodrigo Maia queria permanecer ilegalmente à frente do parlamento. Começou a sonhar intensamente em tomar o lugar de Bolsonaro. Chocou-se com uma evidência pétrea: o DEM quer reeleger o capitão.

      O jogo começa a ser jogado. O centro está virando margem. Luciano Huck trocará o sábado pelo domingo nas tardes da firma. João Amoedo vai cuidar dos seus investimentos. Ciro Gomes olha para a direita, que a esquerda está ocupada. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta ainda alimenta o sonho de acordar no Alvorada e passar o dia no Planalto. Só precisará, talvez, encontrar um partido que lhe dê abrigo. As eleições de 2022 parecem desenhadas para uma disputa entre Jair Bolsonaro e Lula, com Ciro Gomes e João Dória, ou Eduardo Leite, nos papéis de figurantes. Tudo pode mudar. Afinal, se o DEM e o Rodrigo Maia se separaram, por que não poderia a Terra mudar de galáxia? Maia pediu para sair. O DEM achou melhor expulsá-lo. Casamentos assim nunca terminam bem. O amor apodrece.

      O liberalismo do DEM parece ter mais sintonia com o de Bolsonaro. Rodrigo Maia e ACM Neto, o baiano que preside o DEM, foram, por algum tempo, os jovens liberais terríveis da Câmara dos Deputados. Pareciam idênticos. Uma dupla dinâmica. Hoje, Maia chama ACM de Torquemada. A fogueira das vaidades arde com o combustível do poder e das ambições desmesuradas. O novo DEM (ou seria o velho?) encontrou a sua órbita: o bolsonarismo. Dizer isso não é necessariamente uma crítica. Pode ser apenas uma constatação. Desde o começo o DEM brilhou no céu do bolsonarismo com três ministros: Onyx Lorenzoni, Mandetta e Tereza Cristina. Na Câmara dos Deputados, Maia. No Senado, David Alcolumbre.

      Maia e Mandetta ficaram pelo caminho. Alcolumbre errou o salto ao querer mais um mandato, sem direito, à frente do Senado. Onyx e Tereza Cristina permanecem no firmamento. Por que Bolsonaro não entra no DEM? Talvez por procurar um partido para chamar de seu. O DEM já tem dono.


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