"O vestiário está acéfalo"

"O vestiário está acéfalo"

"Nos últimos tempos constatamos que o mundo da bola deu uma nova girada, onde os jogadores assumiram este protagonismo do vestiário"

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Por Evandro Krebs/ Conselheiro do Grêmio

"Quem vive futebol nos seus detalhes sabe que o vestiário é o local sagrado, onde a intimidade consolida ou racha as relações. 
É o ambiente do particular, da lavagem da roupa suja, das discussões, da resolução de conflitos, mas também da descontração, das brincadeiras, do apoio, da mobilização e da pegada. 
Este ambiente, quando equilibradas as relações, proporciona o crescimento do coletivo e a potencialização das individualidades. É quando se dá o encaixe do time, técnico, tático e emocional. 
No mundo do vinho, historicamente, o fator diferencial que determinava um produto final de qualidade passava, inicialmente, pela qualidade do terroir; depois, o conhecimento técnico da elaboração e, por fim, sua estrutura operacional de vinificação. 
Com a disponibilização ampla de informação, equipamentos e investimentos na construção de modernas vinícolas e na formação de enólogos de excelência, o diferencial para se ter um bom vinho passou a ser novamente a qualidade e o manejo do vinhedo e seu terroir. 
No futebol, vivemos a época onde quem mandava no vestiário era o dirigente. O homem que se destacava pela capacidade de comandar e proporcionar um ambiente de confiança, segurança, seriedade e respeito. 
O futebol passou a viver processos de transformação e universalização de conceitos. Os treinadores, então, passaram a assumir esta função de comando, que decorre de uma visão estratégica de busca de profissionalização técnica e de aprimoramento na gestão de pessoas. 
Nos últimos tempos constatamos que o mundo da bola deu uma nova girada, onde os jogadores assumiram este protagonismo do vestiário.
"No vestiário quem manda é ele, falando ou calado", diz o biógrafo de Messi, escritor e jornalista italiano Luca Caioli, no livro “O garoto que virou lenda”. Não é fácil ser líder, principalmente, num mundo de tamanha complexidade e exigências como o do futebol.
A instantaneidade do crescimento de exigências de preparo para esta função e a insuficiência de resultados práticos faz com que estejamos passando por um momento de vácuo estrutural, fazendo com que qualquer ator se sinta apto a comandar sem o devido preparo de comando. Daí, a desordem generalizada que observamos.
O vestiário está acéfalo! Dirigentes políticos, executivos e treinadores inexperientes e despreparados e jogadores sem comando e comprometimento. Quem manda é ele, mas quem é ele? Não basta ter a cara e a coragem para se apresentar. Não, as coisas não funcionam desta maneira. 
Comando exige perfil, preparo, conceitos, valores, capacidade de relacionamento, liderança e decisão. Comando transmite confiança e segurança. Respeito e tranquilidade são consequências. 
Acredito no comando compartilhado, onde todos sabem exatamente o seu papel e a parcela de contribuição no grupo que integram. 
Precisamos estar mais atentos a escolhas de dirigentes, executivos, treinadores, atletas e demais profissionais multidisciplinares.
Ter as pessoas certas ocupando posições ajustadas às suas capacitações e às exigências multifatoriais são preliminares decisivas para um cenário de sucesso e a consolidação de um vestiário unido e vencedor.
Ao natural, então, todos saberão que naquele vestiário quem manda é ele, que além de simbolizar o espírito do grupo significa o comando institucional!

 


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