Inter: o tapa de luvas de Dourado
O herói da goleada diante do 9 de Outubro, ressurgido com Mano, respondeu com um tapa de luvas
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Abro com um parágrafo de uma crônica de Nelson Rodrigues:
"Foi a Bernard Shaw, parece, que perguntaram sobre a multidão. Uma pergunta idiota, mais ou menos assim: — “Que é que o senhor acha da multidão?”.
E ele retrucou: — “Gosto ou desgosto de quem tem uma cara só”.
Meu assunto de hoje é Dourado.
O futebol carrega uma verdade incontestável:
para o jogador prata da casa, com vergonha na cara, identificado com as origens, a vaia surge como uma cusparada.
Com a cumplicidade de uma direção acometida pela vesguice, Medina atirou Dourado, aquele meninote que aos 12 anos já criava raízes no Inter, aos leões.
Desacreditou o volante ao jogá-lo na lateral como quem diz: no meio não dá para o gasto.
Não vi urbanidade nas vaias recentes a Dourado.
Não conheço o torcedor.
Como Shaw, gosto ou desgosto de quem tem uma cara só.
O protesto silencioso de Dourado veio em forma de gols.
Esguio, peito estufado, de alma lavada e enxaguada, ele ergueu o braço esquerdo.
Da mão espalmada despontavam três dedos.
O herói da goleada diante do 9 de Outubro, ressurgido com Mano, respondeu com um tapa de luvas.