Das imposturas

Das imposturas

Para este colunista não há impostura mais feia do que os conceitos firmados sobre os velhos

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Nelson Rodrigues abre assim uma das suas crônicas: "Se me perguntassem qual a mais feia impostura da nossa época, eu daria a seguinte e fulminante resposta: — é a cínica promoção que se faz do jovem. Não há mais, como no passado, o conflito das gerações. Até os velhinhos nostálgicos, espectrais, da porta da Colombo, adulam a juventude.”
Para este colunista não há impostura mais feia do que os conceitos firmados sobre os velhos. No futebol, quase todo técnico velho, ou cascudo, numa linguagem popular, é taxado de ultrapassado. Há aqui um escarrado paradoxo: rotula-se de ultrapassado quem acumulou conhecimento e sabedoria. Não há nada mais moderno do que um cascudo dito ultrapassado, se é que me entendem.
O treinador cascudo desperta um sentimento hostil e generalizado, uma intolerância digna dos ignorantes. Ignorante é aquele que ignora. Lembro de quando o Inter contratou Abel ter lido numa rede social que agora o time afundaria de vez. Com urbanidade e paciência decretei aqui que o clube estava fazendo a coisa certa.
O setentão Felipão não era progressista nem quando juvenil na minha Garibaldi. Trata-se de um ferrenho ortodoxo. Estes tempos de Grêmio moribundo não pedem certidão de nascimento. Exigem sabedoria e conhecimento.  O salvador da pátria gremista, porque o cascudo vai tirar o time desta situação constrangedora, surge como um ultraje para os preconceituosos. 


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