O fim de uma era de glamour

O fim de uma era de glamour

Peguei o tempo em que o vice de futebol era a figura mais importante do clube. Adulado quando o time ia bem e odiado nas derrotas o vice de futebol deixava o presidente e seu séquito periférico no chinelo no quesito notoriedade

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Peguei o tempo em que o vice de futebol era a figura mais importante do clube. Adulado quando o time ia bem e odiado nas derrotas o vice de futebol deixava o presidente e seu séquito periférico no chinelo no quesito notoriedade.

Pelo cargo desfilaram eminências como Arthur Dallegrave, Frederico Arnaldo Ballvé, Pedro Paulo Záchia, José Asmuz, Gilberto Medeiros, Marcelo Feijó, Fernando Carvalho, Adalberto Preis, Cacalo, Alberto Galia, Luiz Carvalho, Rafael Bandeira, Fábio Koff...

Fernando Carvalho foi o último dos moicanos no Inter. Koff, no Grêmio. Empurrados por uma vanguarda enganosa, a de que o futebol necessitava ser profissionalizado, quando isto muitas vezes significava apenas remunerar, Inter e Grêmio extinguiram o cargo na prática, exterminaram uma era glamourosa.

O vice, hoje, tem a serventia de um abajur, é figura decorativa. Não por culpa dele, do vice, mas da forma como o cargo foi engessado. 
A subserviência é tamanha que vice de futebol nem se atreve a contrariar o treinador, é comedido nos pitacos sobre contratações, se é que dá, e está abandonando as entrevistas coletivas.
 

UMA ERA DE GLAMOUR
Em 11 de agosto de 2017 acontecia  a última entrevista de  Fábio Koff.  Ele viria a falecer em 10 de maio de 2018. Acompanhe como se formava uma equipe.  Koff relatou como aconteceu a montagem do time de 1995. Em 1995 o Grêmio conquistou o bicampeonato da Libertadores, no ano seguinte seguiu dando frutos com o bi do Brasileiro e em 1997 foi tricampeão invicto da Copa do Brasil. Para os analistas, tratava-se de uma máquina.
 

A MÁQUINA
A seguir, Koff relata como se deu a montagem de uma máquina, de um Grêmio eternizado.
“Danrlei vinha da base. O Arce foi um telefonema espontâneo e desinteressado do Valdir Espinosa, que tomou a iniciativa de me indicar o Arce, que jogava lá no Paraguai. Rivarola eu fui comprar por indicação do Felipão. O Adílson voltou do Japão e estava com problemas de lesão, já tinha passado por cirurgias. Roger também estava na base. Roger, na verdade, foi escolhido pelo Felipão que viu ele treinando em um grupo escolar. 
 

DINHO
O Dinho foi uma destas coisas do futebol. Em um domingo, estava veraneando em Torres e recebi um telefonema do então presidente do Santos, que me contou que havia esgotado as tratativas com um jogador e se havia interesse da nossa parte nele, que me vendia por R$ 300 mil. Eles tinham feito uma operação e precisavam de R$ 300 mil. Tá bem, eu compro. Comprei e aí que telefonei para o Felipão: ‘Temos centromédio. Contratei o Dinho, que era do São Paulo, do Santos’. Ele então respondeu: ‘Me serve’. Isso foi num domingo. 
Na quarta-feira, o Grêmio ia jogar em Belém do Pará e fui junto. Aí quando fomos treinar, estava terminando o treino do Remo. O Felipão então chegou para mim e disse: ‘Presidente, o senhor não quer dizer para o Verardi ver se este rapaz, o Goiano, não quer ir lá para o Grêmio? Este me serve, eu fico com a meia cancha da Libertadores do São Paulo, me serve’. Aí avisei o Verardi para já colocar uma passagem à disposição dele. Há coisas que acontecem no futebol que não têm explicação. 
 

JARDEL E PAULO NUNES
E bem... Jardel. Vamos ao Jardel. O Felipe não estava bem no Grêmio e achava que iam colocar ele na rua. Então queria falar comigo, chamei então para almoçar comigo. Almoçamos e ele me pediu para ligar para o Eurico Miranda porque o Vasco estava emprestando um centroavante que interessava ele, o Jardel. O Vasco estava emprestando ele parece que para o XV de Piracicaba. Peguei e liguei para o Eurico: ‘Tu tens um jogador aí que me interessa. Não faz negócio ainda, espera um pouco que vou definir, mas quero esse jogador’. Ele me perguntou quem era e quando disse que era o Jardel ele só falou: ‘Leva esta m... Ontem, quando anunciaram o nome dele no banco de reservas já foi vaiado’. E veio assim o Jardel. 
O Paulo Nunes veio na transação do zagueiro Agnaldo. Fui fazer negócio lá no Flamengo e eles tinham uma lista com cinco jogadores. Na hora que estava saindo no pátio, o Paulo Angioni me cumprimentou e me disse para levar o Paulo Nunes e o centroavante Magno. E vieram os dois. Para ver como acontecem essas coisas.”


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