Arquivo de afetividades

Arquivo de afetividades

Alina Souza

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É a afetividade a temática que mais me desperta. Quando eu saio para fotografar sem compromisso, inconscientemente sou atraída por cenas de carinho. Busco recortes que provem a nossa humanidade. Caminho, vasculho e, por vezes, não encontro os encontros profundos. Vejo com mais facilidade as solidões compartilhadas, pessoas próximas umas das outras em mundos afastados, sem contato, sem toque — tocam, no entanto, as telas de aparelhos. Sigo, mesmo assim. Justo pela raridade, sinto a necessidade de registrar as demonstrações afetuosas pelas ruas. Quero compor um arquivo de afetividades. Reais. Não apenas projeções de múltiplos universos em outras plataformas. Importa a vida aqui, agora, percorrida por células, sangue, sentimentos. Estimulante por si só, sem depender das artificialidades. Importa o toque fraterno, longe de ser abuso. Abuso é o contrário do afeto. É a solidão doentia desferindo golpes, um vestígio de que naquele indivíduo faltou amparo, afago, amor: a mão que conduz e fortalece, não a mão que invade e dilacera.


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