Sintomas

Sintomas

Alina Souza

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Foram dias áridos, ardentes. Uma realidade febril, uma busca agoniada por ventilação. Buscamos o ar, e ele veio pesado, sufocante. Como se estivéssemos trancafiados em uma caixa plástica, sem frestas, e a motivação desfazendo-se em suor, esvaindo. Primeiro a atmosfera abafada; depois, a estupidez de um temporal. Percebemos a falta que faz a leveza, a brisa, a água, as sombras — o equilíbrio. Contamos os minutos para que o clima voltasse ao normal. Mas haverá um “normal” em meio a tantas instabilidades? Faz tempo que a natureza sente os excessos, o amontoado de pessoas, prédios, carros, tecnologia, pressa, indiferença. E cada vez mais tornam-se evidentes os sintomas de um planeta esgotado. Ele transpira, eleva a temperatura, clama cuidados. Quer as janelas abertas, a certeza de que ainda restam árvores, umidade, sensibilidade. Quer redescobrir o domínio de si. Acordar dos pesadelos com a esperança de se desprender dos nossos torpes desejos, das nossas secretas ganâncias. O planeta sente que mexemos em suas fontes e recursos, e anuncia, entre anseio e desespero, a urgência de arejar.


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