Saciar a fome

Saciar a fome

Alina Souza

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Sem rodeios, até porque quem tem fome tem pressa, hoje vou falar de um tema aparentemente destituído de poesia: a importância de um prato de comida. Aparentemente destituído, é claro. Poesia existe em tudo. A alvura do arroz, o ferro do feijão, a consistência da almôndega, a intensidade da batata. Basta querer ver os versos que eles aparecem. Mas como eu estava falando, a fome nem deixa pensar muito. Aliás, retiro esse “muito”. A fome nem deixa pensar — e ponto. Tem aquele caráter de urgência desestabilizante. A fome mata, todos sabem. Bem, vamos aos fatos. Eu fiquei um pouco mais esperançosa ao acompanhar a abertura do Restaurante Popular do Eixo Baltazar, bairro Rubem Berta, Porto Alegre. O local atenderá a população com baixa renda ou em situação de vulnerabilidade social. Sei que se trata de uma fatia perto de um contingente gigante. Mas já é algo positivo. As crianças não se intimidavam diante dos pratos cheios, os bebês não queriam “aviãozinhos”, e sim “jatinhos”, tamanha a avidez de se alimentar. De existir, de crescer e, quem sabe um dia, pegar uma caneta e um papel e se deter aos devaneios poéticos.


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