Disposto

Disposto

Alina Souza

Pinhal, litoral norte do Rio Grande do Sul.

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Quando a vontade pulsa lá dentro, pouco se reclama do dia feio. Apenas se vive, como tiver que ser. Não importa se o céu está cinza, se o mar apresenta tons de chocolate ou se o vento agita os cabelos e traz areia nos olhos. Dá-se um jeito. Abstrai-se o incômodo. Não importa nem se a bola é a específica para tal esporte. Caso os pais contestem algo do tipo “volta para casa, menino”, a vontade se mistura ao proibido e fica maior ainda. Sabe-se então que há um limite, é preciso aproveitar o que resta. A resposta “já vou” precede o minuto em que se chuta a bola com mais entrega e até certo desespero, a fim de estender o agora e mandar longe o depois. Inclusive há quem aprecie a paisagem despida de ilusões somente ao avistar o anúncio do fim, a linha tênue da noite, o recado para recolher-se. Afinal, os deveres chamam. Corre-se para não perder a nesga de soltura, improvisar uma partida, pedir acréscimos. Uma forma de driblar as nuvens, quebrar os vidros invisíveis, lançar ao infinito o impulso, preparar-se para os diversos tipos de respostas e contra-ataques. O menino está ciente: não há nada que lhe faça desistir do próximo jogo.


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