Ventania

Ventania

Alina Souza

Vento forte no centro de Porto Alegre.

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Às vezes esperamos apenas uma brisa, mas o vento vem tão forte que muda tudo de lugar. Desalinha, incomoda, derruba aquilo que parecia firmemente fincado dentro de nós. Precisamos reerguer os pilares — talvez com outros materiais — e seguir independente dos cabelos desarrumados, dos ciscos nos olhos, do corpo cansado de vencer as correntes contrárias ao sentido escolhido. Seguir até que as trepidações do tempo se acalmem e possamos aprender a nova ordem advinda da ventania. O caos nos alcança nas esquinas, assovia entre frestas, intensifica-se nas sombras. Ecoa, revira, resgata a sã rebeldia. Leva adiante as partes gastas, as folhas secas, os pedaços feitos para serem soltos no mundo, dissolvidos em meio às experiências e não resguardados com pesar. Apesar do aspecto de fúria, o vento circula dotado de uma certa doçura, feito uma dança do ar, ora sutil, ora conduzida por impulso intenso. Um recado da natureza que sacode as camadas espessas, ventila a atmosfera, reverbera a importância do desprendimento.


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