Dimensão interna

Dimensão interna

Alina Souza

Entrada do Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul.

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Por fora, hospitais e unidades de pronto atendimento parecem seguir uma rotina amena, e essa aparente tranquilidade alimenta a ilusão de quem nega a realidade febril, a dor e o medo internalizados. Na dimensão interna não existe a distração e a anestesia dos rótulos, das fachadas. Se esticarmos a vista até uma fresta ou uma porta aberta, percebemos a sobrecarga de movimentos. Passos ligeiros e olhares compenetrados no desafio de salvar vidas sobre o fio escorregadio à beira do silêncio. Ao observarmos os semblantes dos familiares, fica claro que a inquietação também lhes percorre. Buscam informações ou pedem para entregar algo aos entes internados: sinais que há tanto carinho no aguardo, formas singelas de amparo e a imensa saudade dos abraços. Esforçam-se para que a esperança se mantenha acesa, apesar das notícias de súbitas perdas. O interior requer determinação e preparo, não a fraqueza do descaso. Tantas vezes as aparências sustentam argumentos e falas, enquanto a batalha se passa por dentro e, com o pesar dos sentimentos, se escancara.


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