Urgências

Urgências

Alina Souza

SAMU em frente a UPA Cruzeiro do Sul.

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Frequentemente as sirenes das ambulâncias reverberam a realidade que às vezes tento esquecer. Ainda que seja um som repetido ao longo dos dias na rua movimentada onde eu moro, não consigo neutralizá-lo. Cada sirene é um novo e inescapável alarde de que o mundo não vai bem, clama sensibilidade e atenção. Repenso minhas noções de urgência, a ansiedade por responder mensagens e resolver questões pendentes, a dificuldade em lidar com a espera, o egoísmo de deixar reinar a pressa como se as necessidades cotidianas estivessem no centro do universo. Com um sobressalto diante dos ecos da pandemia, descubro que só a pulsação tem gravidade. Só ela deve passar na frente, temer o tempo e lutar para agilizá-lo. Nada é mais urgente do que uma vida equilibrando-se na linha tênue da permanência. A ruidosa batalha da garantia à saúde atravessa as janelas e paredes, convoca a refletir sobre todas as outras inquietações da alma as quais podem aguardar, exercitar a paciência tendo em vista os milhares de pacientes nos hospitais. Precisamos abrir caminho para a vida alcançar assistência e apreço, emergir sábia e cuidadosa sob as mãos hábeis da vitória.


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