Estridência

Estridência

Alina Souza

Crislene Heerbach, fisioterapeuta que trabalha na Unidade de Tratamento Intensivo contra a Covid-19 no Hospital Conceição.

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As marcas perpassam a pele, ardem na profundidade que busca estabilidade dos aparelhos, constância dos sinais vitais. Marcas intensificadas frente à existência por um fio — exibido em monitores na parte mais aguda de um hospital. Quando a linha já não mais se altera, vem o som estridente que deixa rasgos, lembra do cansaço dos sentidos fixos nos sentidos de tantos seres inconscientemente cansados de resistir. Os profissionais restabelecem o fôlego, não podem interromper a batalha de não deixar que vidas sejam interrompidas. Seguem alertas entre os leitos, com suas máscaras apertadas e, por dentro, o aperto do som da respiração mecânica dos pacientes entubados, o tempo que escorre entre os espaços cheios de medo do vazio. Crislene Heerbach, fisioterapeuta na UTI do Hospital Conceição, conta que muitas vezes sentiu-se impotente, mas encontra forças ao recordar dos reabilitados. Enquanto despe a paramentação, percebe que já não é mais a mesma, os vestígios na superfície atestam que o corpo neutralizou o próprio sufoco para melhor atender a urgência dos outros. A delicadeza do olhar contrasta com a veemência dos vergões, e o instante requer ser delicado para que a brutalidade de um vírus não abra mais fissuras, não comprima o peito e destrua o desejo de querer respirar.


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