Profusão intermediária

Profusão intermediária

Alina Souza

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Sempre penso que entre uma cor e outra há tantas outras no meio, infinitas. Uma aquarela que não se esgota, não termina. Em contraposição, vejo um mundo que gosta de se deter em dicotomias, ou é isso ou é aquilo, como se não existissem realidades intermediárias, inscritas na sutil gradação de tons, nas misturas e expressões que escapam da ira dos radicalismos. Esforço-me para compreender a tendência humana de buscar a oposição, temer os conceitos abertos, não aceitar a impermanência. Por que um posicionamento intolerante se as próprias definições deslocam-se rápidas no céu, mudam matizes e formas, desfazem-se em gotículas e, justo neste processo, tornam-se mais ricas? Por que o medo de assumir a variabilidade dos contornos se tal soltura redesenha o campo de sonhos possíveis? A natureza nos mostra que as cores dissolvem-se umas nas outras, tornam-se mais vibrantes quando se aproximam do sol, conscientes que o furor dura pouco, logo a noite adentra, traz as escalas de cinza, a imensidão do preto, a pausa, a reflexão e a promessa de um amanhã em que tudo trocará de lugar e assumirá incontáveis nuances.


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