Partida

Partida

Alina Souza

João Batista Rodrigues Freitas lamenta a morte do filho e o racismo na sociedade.

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Insisto em tocar o ser humano com os olhos e tentar fazê-lo sentir que estou junto, mesmo quando as vistas estão embaçadas e nem sequer nos conhecemos direito. Existe algo que nos conecta e não precisa de papéis, discursos, prejulgamentos. Estabelece-se na presença do presente, estrutura-se na teia de sentimentos dos mortais que lutam contra a morte, sobreviventes aprendizes sobre a vida — cujas delicadezas da alma transbordam com força total na luz da pele e partem determinadas, retintas, para o combate que inicia na esquina de casa, no transporte coletivo, na loja, no trabalho, no parque, no supermercado. João Alberto Silveira Freitas partiu. As câmeras provam os golpes de uma parcela da sociedade carregada de rancor, ódio, insensibilidade. Gente atraída pela inócua sensação de poder, cega dentro da covardia que subsidia tantos atos violentos. O pai, João Batista Rodrigues Freitas (foto), até tentou conter a dor, mas a ferida é mais profunda e dilacera. Manifesta-se quando o silêncio entrega a consciência, a lucidez, a insegurança quanto ao futuro dos netos e de todo povo preto perseguido, que sai para fazer compras sem a certeza de voltar.


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