Serenidade

Serenidade

Alina Souza

Caminhada na orla de Ipanema, zona sul de Porto Alegre.

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A moça que observa o sutil movimento da imensa lagoa fica incomodada com minhas fotos. Talvez pense que eu vou julgá-la por não estar em casa. Calma, essa não é minha função, tampouco quero avaliar e constranger pessoas. Uns minutos de sol com devido cuidado e distância das aglomerações têm o seu valor. Compreensível desejo de sentir o ar fresco da liberdade em meio a uma pandemia que deixa tudo tão pesado, rouba oxigênio, impõe dilemas éticos, testa a capacidade de flexionar interesses próprios em detrimento do bem comum. Como se não bastasse a tristeza das mortes, o vírus acirrou discussões, considerações do que é certo ou errado. Em meus textos, escolho fugir de embates, das tentativas vãs de forjar certezas diante do inesperado. Prefiro substituir a rigidez da culpa pela consciência das responsabilidades, análise dos atos cujos efeitos alcançam dimensão coletiva. Falar de paz, uma palavra tão leve, curta, sonora. Tentar captá-la na fração dos segundos em que se dissemina feito brisa. Imaginar o quão pura seria a atmosfera se trocássemos as substâncias nocivas dos julgamentos por partículas soltas de empatia.


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