Agasalho

Agasalho

Alina Souza

É preciso trazer à tona os questionamentos.

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Depositamos tanto no fundo dos armários, prateleiras, gavetas. Através do acúmulo, tentamos evitar que o passado escape das mãos. Deixamos emoções úmidas, empoeiradas, jogadas em recantos obscuros. Penduramos cabides com roupas novas à frente, abstraímos questionamentos discretos, em desuso. Será preciso carregar uma enorme bagagem rumo à felicidade? Desapego, essa é a resposta advinda em uníssono das pilhas dos dias que ficaram para trás. Eles clamam o alívio de abrir espaços. Abrir sorrisos. Destinar um recomeço às peças acostumadas ao esquecimento. Limpar, doar, enxergar o universo além do nosso próprio roupeiro. Tocar com carinho aquilo que já foi alvo do nosso desejo e agora poderá se revitalizar em outro lar. Os excessos não nos protegem. Os ventos sopram sem avisar, desabam certezas em instantes. Vencemos quando libertamos o peso, dividimos a lã e o veludo, estendemos cobertas, agasalhamos vidas. Afinal, quais são nossos reais pertences senão essa indestrutível capacidade de fazer o bem?


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