Copo d'água
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Ao valorizar a simplicidade do dia a dia, amplio o espaço do meu viver. Há alguns anos, desisti de esperar a visita do extraordinário. Passei a encontrá-lo discreto, tranquilo, passageiro em meio à trivialidade da rotina. Agora, mais do que nunca, aprecio a beleza das coisas sem nome e esqueço um pouco o vírus que vasculha a atmosfera lá fora. Com a técnica da lente invertida, obtenho uma perspectiva macro do universo que cabe nas mãos — mas foge do nosso controle. O infinito não pertence a ninguém, por isso nos interpela, surpreende, às vezes nos acerta; em outras, fascina. Tomo um copo d’água, cuido de mim mesma, descubro cores em meio à pureza e à transparência. De repente, um intenso arco-íris. A física explica o fenômeno, mas há muito mais que escapa dos conceitos, das medidas, da razão. À distância: detalhes aparentemente banais. Quando o olhar se aproxima, a dimensão mínima se ressignifica, expande-se, torna-se imensidão.