Aprender a esperar

Aprender a esperar

Alina Souza

Plataforma de pesca em Tramandaí.

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Os peixes são pretexto. O homem quer mesmo é pescar o tempo. Capturar alguma partícula de si que o vento tocou para longe e agora faz falta, incomoda, provoca. A pescaria é sua fuga, o frescor de um dia livre, a reconquista da calma e do fôlego. Os peixes tardam a alcançar o anzol, mas é na demora que o pescador mora e vasculha os segredos soltos na existência fluida, por vezes tomada de ondas súbitas. Com o transcorrer das horas, descobre o prazer de saber esperar. Talvez chamem isso de esperança. Desvencilha-se dos pensamentos largos, demasiados. Deseja somente sentir o que lhe toca. Os olhos se inundam de maresia. O azul acolhe, tranquiliza. Os baldes destinados ao pescado estão praticamente vazios, o que fisga a isca não cabe nas mãos. Avançam os instantes, mas ele não vê a vida passar, ignora qualquer pressa de terminar. Apenas sente. Torna-se fortemente humano. Reconhece-se parte da natureza, difuso e perspicaz na paisagem entre o céu, o oceano e a paz. 

Texto e fotos: Alina Souza


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