Diagnóstico com mais precisão

Diagnóstico com mais precisão

Por Taís Teixeira

Taís Teixeira

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Um estudo tem deixado um grupo de médicos otimista em relação ao diagnóstico e à prevenção do Câncer de Colo de Útero. Chamado de “Colposcopia móvel de baixo custo e geração de imagens confocais para a prevenção global de câncer de colo uterino”, o projeto é patrocinado pelo Instituto de Saúde dos Estados Unidos, sendo executado na Santa Casa de Porto Alegre e também no Hospital do Câncer de Barretos, em São Paulo, com a colaboração da Universidade Rice e MD Anderson Câncer Center. Na Santa Casa, quatro médicos participam da pesquisa. Entre eles, o especialista em Ginecologia e Obstetrícia, professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e doutor em Ciências da Saúde pela Ufrgs Regis Kreitchmann. Docente investigador principal do estudo na Santa Casa, ele afirma que o estudo é inédito ao não usar de PCR do HPV, método seguido pela maioria dos estudos que existem na área da prevenção do câncer do colo. A pesquisa teve início na Santa Casa em 2021 e até agora já incluiu 340 pacientes entre 25 e 64 anos.

Como se chama o projeto? Quais entidades/universidades o estão desenvolvendo? Há quanto tempo? 

Estamos realizando, desde abril de 2022, o projeto de pesquisa intitulado “Colposcopia móvel de baixo custo e geração de imagens confocais para a prevenção global de câncer de colo uterino”. O projeto é patrocinado pelo Instituto de Saúde dos Estados Unidos, sendo executado na Santa Casa de Porto Alegre e também no Hospital do Câncer de Barretos, em São Paulo, com a colaboração da Universidade Rice e MD Anderson Câncer Center. Além de mim, os médicos que também estão envolvidos neste estudo na Santa Casa são as doutoras Fernanda Uratani e Giovana Cabreira e o doutor Felipe Luzzatto.

Qual é o diferencial em relação aos estudos anteriores e já existentes?

Trata-se de um estudo completamente inovador na área, que aplica a tecnologia para qualificar e agilizar o processo diagnóstico das lesões pré-malignas do colo uterino. O computador vai sendo alimentado com imagens de lesões e com informações obtidas por uma sonda, que detecta a concentração de células em diversos pontos do colo uterino obtidos por meio dos dados de biópsias realizadas nas áreas suspeitas. Durante o estudo, ele aprende a identificar as imagens geradas e ajuda a localizar as áreas com maiores graus de alterações, sendo capaz de auxiliar na indicação de onde as biópsias devem ser realizadas. Esperamos que, por meio do uso dessa tecnologia de baixo custo, consigamos aumentar o grau de precisão dos diagnósticos e assim auxiliar no manejo médico. A maioria dos estudos que existem na área da prevenção do câncer do colo são relacionados ao uso de PCR do HPV, o que torna o nosso estudo ainda mais importante pelo seu ineditismo.

Quantas pacientes participaram dos testes e qual o perfil delas? Quais foram os resultados?

Na Santa Casa, foram incluídas, até o momento, 340 mulheres entre 25 e 64 anos que precisam ser avaliadas pela presença de alguma alteração na citologia do colo uterino e que consentiram participar do estudo. Elas são submetidas aos exames de imagem e, em alguns casos, à biópsia do colo uterino. A previsão do estudo é de durar mais três anos com a inclusão de um total de 1 mil mulheres. Na Santa Casa de Porto Alegre, todas as pacientes elegíveis que chegam ao ambulatório de Ginecologia pelas Unidades de Saúde são convidadas a participar da pesquisa. Os resultados obtidos ainda são preliminares, mas muito encorajadores.

O que falta para ser de fato comprovado e efetivado na medicina? Qual é a previsão de tempo para que seja aplicado no Brasil?

O estudo precisa ser concluído e seus resultados precisarão ser publicados e discutidos pelos especialistas na área para definir mais claramente o papel que poderá ser ocupado por essa nova tecnologia e em que situações ela poderá ser aplicada. É difícil definir quando estará disponível para às pacientes na prática clínica, mas esperamos que, dentro dos próximos três anos, possamos, na posse dos resultados finais do estudo, discutir seu uso potencial na prevenção do câncer do colo uterino.

Como está a incidência de câncer de colo de útero no Brasil e no mundo? Houve aumento nos últimos anos? Qual perfil mais afetado?

O câncer do colo do útero é o terceiro em incidência entre os tipos de câncer que acometem mulheres, perde apenas para câncer de mama e o colorretal no Brasil. São identificados 17 mil novos casos por ano no país. Ele é a terceira causa de morte por câncer em mulheres e isso se deve aos diagnósticos tardios e as perdas do seguimento das pacientes durante os passos necessários ao seu diagnóstico, tratamento e acompanhamento até a plena recuperação.

Tivemos um período longo durante a pandemia da Covid-19 em que muitos pacientes deixaram de realizar exames preventivos para o câncer de colo, o chamado exame citopatológico, causando agora um acúmulo de diagnósticos dos casos novos e uma sobrecarga nos serviços para os procedimentos cirúrgicos. Os dados do Ministério da Saúde mostram que cerca de 20% das mulheres entre 25 e 64 anos não realizaram exame citopatológico nos últimos três anos e que a cobertura vacinal para o HPV entre meninas de 11 a 14 anos foi de apenas 55%. Essas estratégias são fundamentais para prevenir o câncer de colo uterino. É importante destacar que as lesões pré-malignas do colo uterino não causam sintomas e só podem ser detectadas com a realização do exame citopatológico.

 


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