A importância da prevenção

A importância da prevenção

Também transmitida pelo ar, os casos de gripe tem aumentado e merecem atenção

Felipe Nabinger

"As vacinas sofrem com o próprio sucesso. Doenças que circulavam de forma importante na população algumas décadas atrás praticamente desapareceram. Como não estão mais em evidência, as pessoas não as entendem mais como um risco"

publicidade

Embora a pandemia da Covid-19 não tenha acabado, outra doença transmitida pelo ar merece atenção: a gripe. A influenza tem o potencial de virar uma doença grave, principalmente nas pessoas consideradas de grupos de risco. Médico infectologista, especializado em controle de infecção, coordenador médico da unidade Iguatemi do Hospital Moinhos de Vento e coordenador do núcleo de vacinas, Paulo Gewehr destaca a importância de sensibilizar a população na prevenção da doença, que pode ser prevenida pela vacina. “É importante a vacinação para que a doença encontre dificuldade em continuar a cadeia de transmissão. É o momento de olhar com outros olhos a questão da prevenção”, analisa Gewehr.

Quais as variantes que circulam atualmente?

Quando falamos em variantes da gripe, nós costumamos lembrar de quatro variantes principais: H1N1, H3N2 e duas variantes da chamada família B, a Victória e a Yamagata. Mas na verdade temos centenas, talvez milhares de variantes destas cepas circulando no mundo inteiro, algumas com diferenças genéticas muito pequenas, outras com diferenças bem grandes. Quando falamos em quatro variantes, estamos simplificando o total delas que existe.

Essas variantes apresentam diferentes sintomas?

Embora tenham características diferentes, na maior parte das vezes os sintomas são parecidos. Mas a gente lembra principalmente da pandemia de H1N1 de 2009, na qual a variante H1N1 daquele ano conseguiu causar uma doença mais grave, com maior número de óbitos, diferenciando-se do comportamento de outras variantes daquele ano.

O vírus da gripe se modifica, gerando novas cepas. A vacina acompanha essas mudanças?

Sim. Como o vírus da gripe sofre mutações a todo momento, existe um monitoramento, uma rede global de amostras de vírus em vários locais do planeta. Essas amostras são analisadas e depois compiladas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que analisa essas informações e verifica o impacto das variantes, definindo as quatro cepas que estarão na campanha de vacinação de cada hemisfério. Ou seja, nossas cepas, do hemisfério sul, foram definidas em setembro ou outubro do ano passado para que os laboratórios tivessem tempo para produzir essas vacinas. Como o vírus muda, as vacinas mudam todo ano. Elas precisam estar atualizadas. Uma vacina do ano anterior pode não funcionar tão bem, ocorrendo o chamado missmatch (quando a variante circulante não é a mesma contida na vacina). Às vezes pode ter uma proteção parcial, às vezes nenhuma proteção. O vírus é dinâmico. Além disso, é importante reforçar a proteção, que não é duradoura. Depois de seis meses da vacinação, os níveis de anticorpos começam a diminuir, mas isso coincide com o momento em que o vírus não está circulando de forma tão frequente e o impacto da doença é bem menor.

Vacinar contra a gripe evita a superlotação da rede hospitalar?

Qualquer sistema de saúde no mundo inteiro quando tem um aumento súbito de casos é desafiado em relação à superocupação dele ou à lotação. Neste sentido, todos os esforços que visam diminuir a ocupação, principalmente de serviços secundários e terciários, que são mais complexos e que estão muitas vezes sobrecarregados com demandas de outras doenças conhecidas, são estratégias interessantes. A vacinação tem também essa importância de poupar espaço para que as unidades de saúde atendam às outras patologias de forma adequada.

A pandemia de 2009 fez com que aumentasse a prevenção e diminuísse a letalidade da influenza?

Temos vacinas contra a Influenza há muitas décadas, mas não era lembrada pelos gestores públicos a importância da vacinação, falando em termos globais. Com a pandemia de 2009, se viu a importância da prevenção e a doença grave que a Influenza pode trazer em alguns anos e outros não, além dos outros impactos da epidemia de Influenza, que ocorre todos os anos, principalmente nos meses mais frios devido à aglomeração e baixa ventilação. A vacinação evita doenças graves e óbitos, diminuindo o uso do sistema de saúde, através de consultas médicas e internações hospitalares.

Como as fake news influenciam na adesão a vacinação contra a gripe?

As fake news são uma forma mais atual de uma desinformação que atinge a população desde o início das vacinas, falando especificamente deste tema. Desde 1796 temos relatos de desinformação sobre vacinas, principalmente sobre a segurança delas. As vacinas evoluíram muito e hoje são extremamente seguras. Na classe de medicamentos disponíveis, é a mais segura. Temos amplos estudos sobre a eficácia delas. As notícias falsas só ajudam a diminuir a confiança das pessoas em relação às vacinas. Além de fazer uma campanha de sensibilização, temos que fazer em paralelo uma de combate às fake news. Agora, é até um paradoxo, porque as vacinas também sofrem com o sucesso delas. Doenças que circulavam de forma importante na população causando danos, internações e óbitos, algumas décadas atrás, como sarampo, tétano e difteria, entre outras, praticamente desapareceram. Elas não estão mais em evidência nos noticiários e as pessoas não as entendem mais como um risco importante, esquecendo de buscar a vacina. Vemos isso com a reentrada e recirculação do vírus do sarampo no Brasil, que já havia erradicado essa doença. Pessoas infectadas vindas de fora do país, onde a doença ainda circulava, acabaram encontrando uma população não vacinada. Isso causou a epidemia de sarampo que enfrentamos nos últimos anos.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895