Marcelo Cambria: "open banking é inovação no sentido de gestão de informações"

Marcelo Cambria: "open banking é inovação no sentido de gestão de informações"

Christian Bueller

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Uma novidade que promete simplificar a vida de clientes e deixar de lado a burocracia das instituições bancárias, o “open banking” está em fase de implantação desde fevereiro deste ano. A expectativa é de uma adesão de 5 milhões de pessoas ao sistema. Professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), de São Paulo, Marcelo Cambria explica como funcionará a plataforma que, segundo levantamento recente, é conhecida por apenas 16% dos brasileiros das classes C, D e E.

Como funciona o “open banking” e por que é considerado um sistema mais revolucionário e rápido do que o PIX?

É uma inovação no sentido de gestão de informações que o próprio cliente gera ao longo do tempo, por sua trajetória de adimplência e de relacionamento com as instituições financeiras. Tende a ser uma novidade muito positiva, pois permite que haja a cotação de transações de empréstimo não só necessariamente no banco ou fintech (empresa financeiras de tecnologia) em que o cliente tem conta. Permite que ele faça a cotação em instituições que queiram ter o apetite dele a partir da análise do perfil de risco desta pessoa. O PIX é uma forma de transferência imediata de liquidação que não é comparado ao “open banking”, são estruturas e conceitos diferentes, mas, assim como a novidade deste ano, também reduz o risco de crédito e evita a inadimplência pela rapidez da liquidação.

O senhor poderia das alguns exemplos do que muda na vida bancária das pessoas?

Já apareceram aplicativos que realizam este tipo de operação, que recebem os dados do cliente e, nesse portal, terão diversas instituições conveniadas que vão analisar se têm interesse em realizar a operação com este cliente ou não. Isso vai se transformar em contratações mais rápidas, mais liberais, com propostas a se ponderar, como taxas, custos e serviços, ao mesmo tempo em que você recebe as informações de várias instituições.

Para os bancos, o fato de o acesso aos dados ser concedido pelo próprio cliente é positivo ou tem algum aspecto negativo?

Entendo que é um diferencial competitivo muito grande para bancos médios, menores e fintechs. Porque não se fará mais operações apenas com os bancos que o cliente tem conta, então gera grau de liberdade para o cliente escolher as condições e a instituição na hora de contratar a operação de crédito.

O consumidor brasileiro está pronto para uma mudança com este tipo de conceito?

Vejo os clientes do país muito conectados, inclusive, fazem parte desta estatística de serem bem adaptáveis aos novos aplicativos e tecnologias, portanto, não creio, depois de todas as novidades em que o brasileiro já opera, que seja um problema. Este tipo de solução, por trazer benefício para o cliente, pessoa física ou jurídica, e principalmente para bancos menores que tenham menos contas por poder aumentar o relacionamento, eu vejo com bons olhos. Os brasileiros estão preparados. Temos mais condições de nos adaptarmos a uma solução boa do que a uma ruim.

Quais os riscos para eventuais roubo de dados, fraudes e outras barreiras tecnológicas?

Os riscos estão inseridos na responsabilidade em relação às informações dos clientes prevista na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), assunto extremamente em voga e que está relacionado ao “open banking”. Observo o ambiente preparado, com arcabouço normativo e organização muito interessante para a própria prática desta novidade.

Como está o processo de implantação, que começou em fevereiro? Qual a previsão para a utilização total da plataforma?

Já está em vigor, já existem aplicativos e até propagandas na TV que promovem o produto, ou serviço, mas a plenitude está programada para acontecer dentro de um ano. Trata-se de algo que, provavelmente, não tem volta. É bom para estimular a competição, promover oportunidades para bancos menores, fintechs e digitais. Importante para o mercado, portanto é bom para o cliente

Em que contexto o “open banking” poderá contribuir com a saúde financeira dos brasileiros?

O “open banking” conecta com uma melhoria de redução de custos, dadas as condições de mercado e a facilidade de cotar entre as instituições as operações, comparativamente às oportunidades anteriores, é mais provável que você tenha mais condições de encontrar um empréstimo com condições melhores. Portanto, tem um lado de precaução, que não deveria haver vaso comunicante de cotações entre as instituições para que não haja carta marcada ou balizamento das taxas entre os bancos. Teria que ser um processo individual, e é como o produto foi desenhado e por qualquer meio isso não deveria acontecer porque, então, toda a graça e propósito da solução do serviço seria perdida e bastante arranhada no seu mérito principal.


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