Os desafios de Porto Alegre em 2021: "Esperamos equilibrar a economia com a saúde"

Os desafios de Porto Alegre em 2021: "Esperamos equilibrar a economia com a saúde"

Especialistas analisam como superar no próximo ano as dificuldades nas áreas mais atingidas pela pandemia em 2020

Gabriel Guedes

Sebastião Melo, prefeito eleito de Porto Alegre

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O prefeito eleito de Porto Alegre, Sebastião Melo comenta sobre os caminhos e consequentes dificuldades que os moradores da capital dos gaúchos terão que enfrentar em 2021. Em um tom otimista, Melo aposta grande na superação, mas acredita que a volta à rotina só acontecerá com o advento da vacina. “A imunização é o que vai dar esta garantia para as pessoas voltarem, com segurança, a conviver com a cidade”, pontua. 

Que Porto Alegre o senhor vai encontrar no dia 1º de janeiro de 2021? 

Eu espero uma cidade com muita esperança, que vai produzir mudanças para melhorar a vida das pessoas, com muito diálogo, equilibrando a economia com a saúde, protegendo as pessoas e dando mais oportunidade, enxergando as possibilidades de terem renda e ser uma cidade mais inovadora também. 

Gostaria que me falasse qual seria a Porto Alegre ideal, de algo que deixaria orgulhoso seus moradores? 

Não acho que seja cidade ideal. A cidade é uma evolução de como é a vida. As soluções urbanas são permanentes. Então uma cidade boa para se viver é aquela que tenha oportunidade para as pessoas, que tenha segurança pública, educação de qualidade. Que se possa viver com felicidade. O que as pessoas querem? É ser feliz. Como sou feliz? Tendo uma boa família, aproveitando o meu bairro, andar por aí se sentindo seguro. E que sinta orgulho dela. A busca do cidadão é a felicidade e de uma cidade é proporcionar a cada dia que este cidadão seja mais feliz. 

A saúde, fortemente atingida nesta pandemia, vai ser o foco inicial da nova administração? 

Saúde é um desafio no mundo e também no Brasil. E antes da pandemia já era um desafio, mas muito mais agora. A rede pública vai ter que absorver mais, por que tem muita gente saindo das empresas. Tem três questões que gostaria de deixar como principais: primeiro, preparar a cidade para a vacina. Então tem que comprar seringa, agulha, ter geladeira. É ter os equipamentos necessários, por que daqui a pouco brota a vacina e tu não está preparado e vai perder a vacina para outro lugar que esteja preparado. Se o governo federal não comprar vacina, aí num consórcio metropolitano, adquirimos a vacina. E fazer também com que não falte leitos para a Covid, fazer mutirões de cirurgias e consultas. São temas urgentes e necessários que a gente vai fazer. 

A pandemia, imagino, ainda vai tomar muito tempo da sua agenda, mas certamente vai ser um alívio quando a cidade puder superar esta situação. O que podemos prever de realizações para a cidade no pós pandemia? 

Primeiro, é trabalhar, torcer para que a pandemia chegue ao fim. A imunização é o que vai dar esta garantia para as pessoas voltarem, com segurança, a conviver com a cidade. Só que temos que reconstruir a economia, a educação, reconstruir a renda das pessoas. Por que as cidades do mundo inteiro não serão as mesmas depois da pandemia. Esta reconstrução depende de muita competência, muita expertise, muita tecnologia, muito bom gestor, das parcerias público-privadas. Tu tinha uma quantidade de passageiros que andavam de ônibus, que mesmo quando terminar a pandemia, muitas destas pessoas vão trabalhar em casa. Muitas pessoas que iam para a faculdade ou colégio, também vão estudar via remotamente, num sistema de tecnologia híbrida. A cidade pós-pandemia é uma cidade que precisa ser pensada em toda sua logística, em todo seu aspecto técnico. A pandemia nos trouxe muitas dores, mas também trouxe janelas, com oportunidades na questão tecnológica. E a prefeitura não pode mais continuar analógica como ela é hoje, que é papel, é carimbo. A prefeitura do futuro não pode ser mais assim. 

A gestão que está encerrando, chegou a cogitar a implantação de um pedágio para entrar na cidade para financiar o sistema de transporte coletivo. Qual o caminho o senhor deseja seguir para resolver este problema dos ônibus? 

Nós fizemos a primeira reunião e criamos um grupo de trabalho, com quatro pessoas, do quadro da prefeitura. E estamos analisando a repactuação do contrato assinado em 2015. Então vamos organizar isso em todos os aspectos. Do jeito que está não pode ficar. Então, a gente tem que ter a capacidade, a inteligência e o bom senso do poder público e dos operadores, 78% privado. Inclusive, essa questão da Carris eu deixei bem claro. Ela é uma empresa pública, mas tem que servir ao cidadão. Não posso estar colocando dinheiro público lá todo o mês. Ou bota dentro do sistema, e ali ela também está dentro do sistema. Ela também está sendo analisada para uma venda no futuro. 

O segmento de tecnologia vem ganhando bastante importância na Capital e região. Pretende atuar para tornar a cidade mais atrativa a este tipo de empreendimento? 

Não tenho dúvida. Aliás, já fiz visita à PUC, à UFRGS, Unisinos, e junto com o Pacto Alegre, nossa administração tem alguns focos. Inovação, que começa a mudando as nossas mentes – e primeira coisa para ser inovador na cidade é mudar a mente. Não se pode agir como agiam. A inovação faz uma cidade melhor, mais feliz, mais conectada, com mais renda. Inovação está no DNA do nosso governo, como está a liberdade econômica, a desburocratização e a facilitação de aberturas de negócios. 

Podemos então ter algum avanço na desburocratização para empreender na cidade? 

Queremos. Não temos como contratar novos servidores e você tem que prestar o serviço. E como presta o serviço: eu uso mais a tecnologia, preparando os servidores que estão aí. Fazendo parcerias com a iniciativa privada. Porque a máquina pública não tem mais como ser inchada. Ela é pesada e precisa também caber no bolso do cidadão, que paga muito tributo e tem serviços que não são de qualidade. Temos que ter clareza disso e agir para ter a eficiência na gestão. 

O que mais pode ser feito para ajudar a fortalecer a economia de Porto Alegre em 2021? 

Primeiro lugar: a cidade não pode fechar, mas operar com os protocolos necessários. Se fechar se prejudica mais ainda. Você tem que potencializar os setores que tem mais expertise: educação, comércio, varejista, turismo de negócios. Tem que potencializar o que a cidade tem, facilitar a abertura de novos negócios e manter os que temos aí. Aí podemos usar o instrumento do ISS (Imposto Sobre Serviços). No caso de eventos: tem que se pagar 5% para fazer eventos em Porto Alegre. Mas digamos que estamos dispostos a discutir esta alíquota, para poder facilitar a um setor que está totalmente quebrado. Isso vale para outros setores também. Mas não posso ser irresponsável ao diminuir impostos e perder arrecadação. Posso diminuir? Posso, mas desde que o setor garanta que irá movimentar a cidade, vindo a formalizar as empresas que não foram formalizadas. 

As estratégias para a segurança pública da cidade precisam melhorar? 

A segurança pública é também uma questão do prefeito e da gestão local. O prefeito precisa ser permanente vigilante no combate à drogadição, através da conscientização, de campanhas permanentes na rede escolar, na sociedade como um todo. Precisa ter uma boa iluminação, ocupação dos espaços públicos, geração de emprego e renda, porque isso é um fator de segurança pública, integração, inteligência e investimento. Vamos criar um programa nos moldes do que o Sartori (ex-governador, José Ivo Sartori) fez, que é permitir que o empresariado reserve parte dos seus tributos para que invista na Guarda Municipal – e aí envolve tecnologia - e na polícia civil e militar que atua em Porto Alegre. Então é um desafio e vou cuidar pessoalmente do gabinete de gestão integrada municipal, que vai ficar no gabinete do prefeito. Nós vamos ter, no mínimo, uma reunião por mês, comigo na ponta da mesa, chamando tudo que diz respeito à cidade e com todos nós juntos encontrando a melhor solução para a cidade. 

Como o Melo imagina o final do próximo do ano na Capital dos gaúchos? 

Tu, eu, a torcida do Grêmio, do colorado, do São José e todos nós queremos uma cidade no final de 2021 que possa estar convivendo com harmonia, com um réveillon na beira do nosso Guaíba, com as pessoas felizes, podendo se abraçar pessoalmente. É a cidade que eu espero para o mundo. A solidariedade não tem fronteira. Vamos trabalhar muito, fazendo nossa parte, para que a crise passe e que a esperança e a mudança voltem a reinar. 


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