Um feito da solidariedade

Um feito da solidariedade

Por trás do nome do Hospital Nora Teixeira, no Centro Histórico de Porto Alegre, existe uma história de paixão e comprometimento. Nora Teixeira é advogada e empresária.

Paula Maia

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Quando surgiu seu objetivo com causas sociais?

Desde muito nova comecei a nutrir essa grande admiração e respeito pelo nobre gesto de doar e tornei um objetivo pessoal o envolvimento com causas sociais. Neste caminho, cada vez mais, compreendi que ao doarmos nosso tempo, atenção, carinho, recursos, um simples olhar sincero, um abraço apertado, nos conectamos com essa parte mais bonita da nossa alma. E isso é uma experiência indescritível. A minha bisavó, a minha avó, a minha mãe, elas trabalhavam muito com voluntariado. Eu me lembro, com meus 17, 18 anos, que passava uma tarde da semana indo em instituições junto com a minha avó e doava meu tempo. Ficava brincando com crianças. E assim foi gradativamente. Depois eu comecei a atuar no Pão dos Pobres. Eu levava minhas filhas para servir cachorros quentes e depois a gente conversava com as crianças, brincava com elas. 

Por que a Santa Casa?

Para a Santa Casa não interessa se a pessoa é convênio, particular ou é SUS, todos são tratados igual. Isso eu acho maravilhoso. A Santa Casa tem profissionais excelentes. Eu confio muito na Santa Casa, ela tem uma prestação de contas impressionante. Uma prestação que é no detalhe mesmo. E isso é muito importante quando a gente quer ajudar uma instituição. A primeira coisa que a gente tem que pensar é ver se não vai ter dinheiro desviado. E a Santa Casa realmente tem uma clareza e uma transparência nas contas que faz com que eu tenha orgulho de pedir e confiança também para investir o meu dinheiro e o dos outros doadores. Então isso é muito importante, essa transparência nas contas. Faz toda a diferença. Quando lançam um projeto, tem data de início, meio e fim. Entregam sempre no prazo e muito mais do que a gente combinou. Isso faz com que cada vez eu goste mais de trabalhar na Santa Casa.

Como foi sua participação na rotina na construção do hospital?

Fui pedindo doação para famílias e empresários, todos prontamente aceitaram, não tivemos nenhum não. Eu pedi doações, a Santa Casa pediu doações, o doutor Lucchese também pediu doações. Foi um grupo de pessoas que se envolveu nessas doações, não fui só eu. Só contando a história do hospital novo, não precisava nem pedir a doação, algumas famílias se ofereceram. A Santa Casa me mandava o relatório, tudo que tinha entrado e os gastos da obra. Eu acompanhei porque, no momento em que peço um dinheiro para uma família, para uma empresa, tenho que cuidar desse dinheiro, então eu realmente cuidava bastante. Queria saber como estava indo para a gente não ter nenhuma surpresa durante a obra. A obra acabou saindo um pouco mais cara em função da pandemia. Tivemos alguns atrasos na construção. Então, eu acompanhei todo o tempo. E foi lindo de ver porque a Santa Casa foi maravilhosa nessa construção. Ela realmente se doou muito.

Quantas famílias ajudaram na construção do projeto do Hospital Nora Teixeira?

Vou citar algumas que fizeram doações altíssimas e foram muito relevantes. Sem elas, esse hospital não estaria em pé. Então, fui eu e o meu marido Alexandre. A família Caio Poester, que é um senhor que infelizmente faleceu no meio da construção do hospital. Faleceu com 100 anos, uma pessoa maravilhosa. A família Celso Paulino Rigo, Flávio Sérgio Wallauer, Irineu Boff, João Jacob Vontobel, a família Ling, Regina e Hermes Gazzola, Renato Ribeiro, Santina De Carli Zaffari. A empresa JBS e a empresa Josapar/Real Empreendimentos. Essas famílias doaram de 10 a 20 milhões cada, então foram valores bem importantes. Depois, tivemos uma ajuda do governo do Estado de R$ 14,5 milhões e também uma ajuda do Fundo do Idoso, que liberou incentivo no valor de R$ 4,5 milhões. Então, fora o governo do Estado e a prefeitura, conseguimos arrecadar, com doação de coração, sem incentivo fiscal, R$ 233 milhões. O total do hospital foi R$ 284 milhões. Ele é um hospital basicamente feito da solidariedade das pessoas da sociedade, dessas famílias, empresas maravilhosas que abraçaram a causa junto com a Santa Casa e comigo.

Qual o próximo projeto?

Então, nosso novo projeto tem como objetivo revitalizar e modernizar a unidade de transplantes da Santa Casa, que é o Hospital Dom Vicente Scherer, e vai custar R$ 60 milhões. Já fizemos uma doação de coração, sem incentivo fiscal, de R$ 36 milhões, e vamos buscar com famílias e empresas R$ 24 milhões. Fiquei superfeliz que quando anunciei esse projeto, no dia da inauguração do hospital Nora Teixeira, algumas famílias já me sinalizaram que gostariam de nos acompanhar. É uma obra que vai ter duração de três anos, então estou pedindo doações. É um projeto que vai fazer muita diferença para a Santa Casa, primeiro porque vai revitalizar todo o prédio. É um projeto grande que vai aumentar em 40% o transplante de medula óssea. O Dom Vicente Scherer atende mais de 90% SUS. Eles realmente estão precisando dessa reforma, então vou ficar muito feliz com as famílias que quiserem nos acompanhar. É um projeto muito bonito mesmo. 

Uma novidade?

Até o final do ano, nós vamos lançar um projeto novo, junto com as Voluntárias pela Vida, que pretende reformar e ampliar a emergência pediátrica, SUS, convênio e particular. Para arrecadar doações para esse projeto da emergência pediátrica nós pretendemos também fazer um baile das Voluntárias pela Vida, no ano que vem. 

Fale um pouco das ações do grupo Voluntárias pela Vida.

Quando comecei a trabalhar como voluntária na Santa Casa foi junto com as Voluntárias pela Vida, com um grupo de dez mulheres. Nós fizemos vários projetos. O primeiro foi a reforma da UTI pediátrica em seis meses. Depois, a reforma da sala de cirurgia e de alguns quartos e ainda construímos alguns quartos no hospital São José. Essa reforma no São José foi fantástica, porque ela conseguiu resolver muito o problema da lista de espera no hospital, que era grande. Depois teve o projeto da Casa de Apoio Madre Ana, que foi capitaneado pelo doutor Fernando Lucchese e nós ajudamos na manutenção, fizemos algumas feijoadas para arrecadar verba. Conseguimos doações para a ampliação na capacidade de hospedagens. 

Como surgiu a ideia da Casa NTX?

Sou advogada, trabalhei três anos nessa área. Depois fui transferindo para a organização de eventos. Já faz mais de 30 anos que estamos nesse setor. Vimos a necessidade de ter uma casa de eventos em Porto Alegre onde a gente pudesse fazer uma festa em dois dias, montar uma superfesta, um salão alto. Uma casa que pudesse fazer uma festa rápida e ao mesmo tempo bem elaborada. Porque nos clubes geralmente não pode pendurar coisas no teto, tem que ter várias recomendações. Então a gente resolveu fazer uma casa só para isso. E a casa já tem 12 anos de vida e me dá muita satisfação. A Casa NTX é um palco de sonhos, um palco onde a gente realiza o sonho das pessoas. A minha sócia é a Bettina Becker e a Aline Teixeira também trabalha conosco. Nós somos as três irmãs que trabalham nesse setor há bastante tempo.


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