Aprendendo com as quedas

Aprendendo com as quedas

Conhecido, inicialmente, pela vida de ator e apresentador, Felipe Titto chegou aos 36 anos com 15 empresas e gerindo mais de 3 mil pessoas.

Kyane Sutelo

O meu foco agora é muito mais prazo do que número.

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Como foi sua trajetória até se tornar empreendedor?

Eu comecei a empreender na necessidade. Porque acabavam as novelas e eu nunca tive contrato, sempre fui contratado por obra. Então, era contratado por 1 ano, por 2, só que o contrato acabava e nem sempre eu emendava outro trabalho. Tinha um espaço de seis, nove meses, um ano, e eu ficava desempregado. Eu falei “não sou um cara que faz essa gestão financeira tão bem, a ponto de ganhar esse dinheiro aqui e ele durar um ano”. Realmente não sou um cara para isso. Tanto é que tenho um departamento hoje que faz isso melhor que eu. E também fui pai com 16 anos e não só isso, a história toda da minha família, sempre fui um cara que tive que ajudar, não podia me permitir ficar desempregado. Aí decidi abrir alguma coisa e pensei que deixaria o negócio rolando, como todo mundo que vai abrir o CNPJ acha: deixo alguém tocando e vai me dar um dinheiro por mês. Enganei-me, investi dinheiro errado algumas vezes. Com certeza, o fato de eu ser uma pessoa midiaticamente conhecida acelerou o processo. Costumo dizer que se uma pessoa convencional demoraria cinco, seis ligações para chegar em alguém, eu chegava direto, então isso acelerou uma série de processos, porque era “chumbo trocado”, as pessoas queriam mídia, eu era mídia, eu queria a dica, o dinheiro, o aporte, e isso acelerou uma série de coisas.

Qual foi o primeiro negócio que deu certo?

Eu fui morar em Los Angeles, fiz um curso de seis meses de atuação e fiquei um ano e meio para pegar a língua, não falava nada de inglês. Eu entrei como pizzaiolo e assumi como chefe em um restaurante da Califórnia. Eu não sabia nada de culinária. Voltei para o Brasil com uma bagagem de culinária, abri meu primeiro negócio, que foi uma loja de roupas, porque sempre gostei de moda, e, no paralelo, com dois amigos, abri um restaurante mexicano, em 2011, 2012. O restaurante durou um ano e meio, só que muito mal administrado. Eu pegava o dinheiro do caixa para ir a algum lugar, depois, de noite, tinha que pôr o dinheiro do mercado, era compras todo dia. Mas, enfim, serviu para aprender uma série de coisas sobre o que não fazer. Quando voltei para o Brasil, fiz participação em novela e começou o Instagram a movimentar, era “tudo mato” por lá. Vi que tinha dinheiro, coisas acontecendo ali e comecei a empreender na minha maior empresa, que é o Instagram. Hoje é minha marca. Das 15 empresas que temos na holding, pode somar o faturamento de cinco ou seis, que não batem o que ganho com o Instagram. Tudo é muito pensando, tudo muito estratégico, posicionamento, coisas que aparecem, o momento que posto. Foi quando a agência começou, porque eu comecei a indicar artistas, amigos para trabalhos, para contratos de R$ 1 milhão e vi que poderia ganhar 20%. Daí comprei 50% do escritório do meu empresário e comecei a agenciar a carreira de outros artistas.

Como surgiu a ideia de diversificar os negócios? E quais as principais vantagens e dificuldades de gerir empreendimentos tão distintos?

Sempre gostei muito da pluralização das coisas. Mas eu, dificilmente, boto a mão ou aporto dinheiro em algo que não tenha o mínimo de embasamento sobre o tema, porque eu não vou saber operacionalizar e não faz sentido. Obviamente, não existe uma receita de bolo, mas existe um pseudocaminho das pedras que eu entendi. Vi que acertei o caminho de uma e se replicasse esse formato em outra, também conseguiria acelerar. Então, comecei a acelerar as coisas e o faturamento vinha. Eram coisas que domino porque eu também sou plural, gosto de muitas coisas. E o desafio de ter várias operações é que você tem que controlar o mais difícil, gestão de gente. Fazer gestão da empresa é muito simples, mas gerir pessoas é onde mora o problema e, particularmente, faço muito bem. 

São quantas empresas e pessoas para gerir?

Dentro da holding tem umas 15 empresas e estamos com duas marcas novas. Estou abrindo uma marca de refrigerante e uma de roupas. Há empresa nossa de crédito consignado que tem 1,2 mil colaboradores. É muita gente, deve totalizar umas 3 mil pessoas. 

E como é ser investidor de alto risco?

Só vira um alto risco quando você não faz essa leitura. Toda empresa na qual aporto dinheiro, a gente traz para dentro da holding e faz um projeto de due diligence ( diligência prévia, em tradução livre) muito afinado, vejo se não tem problema trabalhista, não tem dívida. Se a empresa estiver, de fato, redonda, se eu entender para onde vai o dinheiro que eu estou aportando e, na minha cabeça, não na do empreendedor, fizer sentido, a gente faz e dificilmente é um negócio de risco. Demorei para ganhar o meu dinheiro. Eu não vou botar dinheiro na empresa dos outros, se não tiver certeza do que estou fazendo. 

Você já falou que teria a meta de alcançar 50 milhões de dólares. Qual é a meta atual?

Hoje, de verdade, não tenho um número financeiro, tenho um número de idade. Eu tenho 36 anos e a minha ideia não é parar, obviamente, porque ficaria maluco, mas eu preciso tirar o pé do acelerador até os 40. Tenho mais quatro anos. Os 50 milhões de dólares já não é o número que fecha a conta para um monte de coisas que quero. O meu foco agora é muito mais prazo do que número.

E qual o plano para quando chegar os 40 anos?

Eu vou poder escolher, definitivamente, o que quero fazer. Hoje faço um monte de coisa que talvez eu não quisesse, horários nos quais eu não gostaria de estar trabalhando, reuniões das quais não queria participar. Mas tenho que estar lá, porque o que engorda o gado é o olho do dono. Se você não está lá, a coisa não vai andar. Então, acho que com 40 quero estar com tempo de dizer “hoje, não quero ir para o escritório” e vou dormir até a hora que quiser, vou ficar com os meus cachorros, vou ficar em casa, treinar com meu filho. Queria poder me dar esse luxo e eu ainda não posso. 

Qual o legado que pensa em deixar para seu filho?

Acho que a posição do meu sobrenome. Todo mundo que nascer Titto daqui para frente não vai passar o que eu passei. Meu filho tem 20 anos. Ele não passou por perrengue nenhum. A gente conversa muito sobre isso. Ele é atleta, quer treinar para ser bodybuilder (também conhecido como fisiculturista). Eu posso dar esse apoio pra ele, contanto que ele tenha responsabilidade. Mas eu sou zero o pai que pensa em deixar heranças e bilhões na conta. Não, deixei o mais importante, dei a melhor educação, paguei escola particular, uma das melhores de São Paulo, dei convênio. Eu digo, “posso fazer tudo por você, menos a sua parte”, então, daqui pra frente, obviamente, vou dar todo o apoio, enquanto eu puder, enquanto estiver vivo e depois…É assim que a banda toca.


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