Oportunidades trazidas pela IA

Oportunidades trazidas pela IA

A IA está vindo e veio para ficar.

Paula Maia

Gaúcho de Gramado, Daniel Vettorazi é um entusiasta da tecnologia.

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Gaúcho de Gramado, Daniel Vettorazi é um entusiasta da tecnologia e incorpora o lema de que as máquinas devem trabalhar para que possamos ter mais momentos criativos. Como ‘creative technologist’ brasileiro, sua trajetória transcende fronteiras desde sua ida para os Estados Unidos em 2019. Vettorazi alcançou uma série de prestigiados prêmios, mais recentemente por seu notável projeto Lifesaving Radio, onde a Inteligência Artificial (IA) desempenha papel central na criação de uma rádio inovadora destinada a cirurgiões. Entre seus triunfos estão um Leão de Bronze em Cannes, na categoria Pharma, e quatro prêmios Clio na área de projetos com IA. O renomado visto 0-1, que o habilita a residir nos EUA, atesta o valor de seu trabalho. Este título, apelidado de Visto de Gênio, é reservado apenas para indivíduos dotados de habilidades capazes de contribuir substancialmente para os Estados Unidos.

Como está os bastidores da tecnologia? 

Grandes empresas, como a Microsoft, Google, e a Meta (Facebook) estão usando tecnologia large language model (LLM) internas, ou seja, seus próprios chatGPT, criando produtos para seus usuários com essa tecnologia. O interessante é que cada uma dessas empresas usa LLM de uma forma diferente. Por exemplo, a Microsoft, que é parceira da OpenAI, está integrando o chatGPT em seus produtos, como o Word, para ajudar na escrita de seus usuários, ou no Outlook para ajudar a redigir e-mails. O Google está usando LLM para agilizar e melhorar o resultado de buscas. Outra utilidade interessante é o uso dessa tecnologia pela Google para traduzir conteúdos, já que LLM consegue entender o sentido de frases. Essa tecnologia acaba fazendo traduções mais precisas do que um tradutor que usávamos anos atrás. Já a Meta está usando LLMs para análise de conteúdo. Por exemplo, eles usam LLM como uma forma de “ler conteúdos” em redes sociais de forma mais precisa e verificar se aquele conteúdo é perigoso, se parece ser fake news, ou tem algum objetivo maldoso.

O que tem de novidade nos EUA que não chegou aqui? 

A parte mais interessante dessa tecnologia é que a maioria das funções que usuários americanos usam lá chegam no Brasil mais cedo do que produtos físicos a que estamos acostumados. Algo novo que está surgindo no EUA, e que já tem aqui, porém, ainda não está sendo tão usado como é usado lá: são os plugins de chatGPT. Com eles, empresas menores podem usar o poder do chatGPT e de LLMs para criarem seus próprios apps dentro da plataforma da OpenAI. Isso significa que empresas podem automatizar processos, criar produtos, ou melhorar os atuais sem ter que treinar seus próprios modelos de LLM. Essa tecnologia de plugins para chatGPT pode ser uma arma secreta para muitas empresas brasileiras.

Quais as potencialidades dos plugins de chatGPT?

Eu lembro 10 anos atrás, quando o WhatsApp começou a oferecer versão business para empresas usarem como canal de comunicação com seus clientes ou até adicionar bots para autoatendimento. Eu vejo esses plugins para chatGPT como um novo WhatsApp para empresas. Com ele, empresas poderão criar bots que realmente interajam com seus clientes ou que fazem busca em estoque, não só usando código de produtos, mas com descrições de produtos, ou até mesmo usando uma conversa com o cliente para gerar compras automatizadas de produtos da empresa.

O que os brasileiros podem esperar da IA e da Realidade Aumentada (RA) em breve?

É provável que a Inteligência Artificial e a Realidade Aumentada desempenhem papel cada vez mais significativo na vida dos brasileiros, em praticamente todas as áreas, porém, algumas são importantes de ressaltar, e a que mais acredito, como, por exemplo, a educação. A IA nos Estados Unidos está sendo usada como tutores privados e ajudando alunos a entenderem e se aprofundarem em assuntos sem necessidade de pesquisar centenas de websites ou falar com outras pessoas com experiência. Já em AR, veremos cada vez mais professores usando AR como uma forma de trazer materiais para a sala de aula. Aprender sobre a fauna ou flora presenciando animais na sua mesa ou transformando a sala de aula em uma floresta virtual, além de tornar mais lúdicas as aulas escolares, fomentará a curiosidade de alunos, certamente.

Outras possibilidades da Inteligência Artificial?

Outra área que vejo IA realmente sendo útil na vida de brasileiros é na área de saúde. Vários hospitais pelo mundo estão treinando modelos de machine learning, os quais são abertos para qualquer um baixar e testar para detectar células com câncer ou melhorar qualidade de resultados de máquinas defasadas ou que não têm qualidade como máquinas que custam valores muito altos. Ou seja, hoje, uma máquina que tem anos de idade, que estaria sendo aposentada, pode ganhar, quem sabe, uma segunda vida, com uso de IA, e ajudar comunidades mais carentes. No varejo, já vemos lojas que usam IA para permitir que clientes entrem na loja, peguem o que quiserem e saiam, sem precisar enfrentar filas para pagar. Com dezenas de câmeras espalhadas na loja, uma IA consegue detectar que o cliente está fazendo a compra e o item adquirido.

Devemos ter medo da Inteligência Artificial?

Não precisamos temer. A IA está vindo e veio para ficar. Mas, sim, precisamos ficar atentos na forma como trabalhamos com ela. Hoje estamos construindo os pilares do futuro que nossos filhos e netos vão experienciar, ou seja, é crucial termos certeza de que estamos construindo algo bom e pensando em um futuro no qual essa tecnologia não piore nossas vidas quando pode nos ajudar, e muito. 

Quais implicações éticas?

Você consegue hoje em dia criar uma face de alguém, criar um nome falso, automatizar um perfil de alguém em questões de horas. Então, em questões de horas qualquer um pode criar uma pessoa. Você pode criar uma pessoa inteira, e não só ela, mas criar a família dela inteira. 

Qual o maior desafio da Inteligência Artificial?

O melhor exemplo que posso dar sobre esse cuidado e o assunto que mais me preocupa é o viés, que se refere a tendências não intencionais que surgem nos modelos de IA devido a dados de treinamento desequilibrados, práticas de coleta de dados ou até decisões tomadas durante o projeto do algoritmo. Em muitos casos, um modelo de IA simplesmente reflete as tendências presentes nos dados com os quais foi treinado. Se esses dados forem inclinados de alguma forma, o modelo também será. Ironicamente, não podemos culpar a IA, mas sim quem a treinou ou quem coletou os dados para esse treinamento desse modelo, ou seja, as pessoas. Para prevenir isso, empresas têm que ficar atentas sobre como elas coletam e preparam os dados para treinamento. Elas têm que ter certeza de que estão pegando todas as classes, gêneros e tipos de pessoas para terem um modelo mais realístico com o mundo real.

Como vês a ida dos especialistas para os EUA?

Muitos profissionais que saem do Brasil de diversas áreas têm vontade de voltar. Usam esse tempo fora como pesquisa de campo, ou para estudar tendências de mercado que estão por vir, e decidem trazer novos comércios para o Brasil. Na tecnologia isso não acontece tanto, pois o Brasil é famoso por ser um país que não fomenta o mercado tecnológico. Imagino que a IA e a RA são duas áreas da tecnologia que podem ajudar a quebrar esse paradigma, já que qualquer um, independente de onde está no mundo, pode criar uma empresa que valha milhões de dólares, apenas com um computador e acesso à internet. Usando como exemplo a IA, a maioria das empresas que estão surgindo não estão no Silicon Valley, mas em Praga, China, Índia, México, etc. Espero que o Brasil entre nessa lista logo, pois potencial não falta.


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